Ministério da Saúde ordena retestagem em material de doadores de órgãos que passaram por laboratório privado após casos de HIV no RJ
O Ministério da Saúde exigiu a retestagem de todos os doadores de órgãos cuja testagem havia sido realizada pelo laboratório privado Patologia Clínica Doutor Saleme (PCS-Saleme), no Rio de Janeiro. A determinação foi dada após a contaminação por HIV de seis receptores que estavam na fila de transplante da Secretaria Estadual de Saúde do Rio de Janeiro (SES-RJ), em um caso inédito na história do serviço.
O laboratório privado, contratado pela Fundação Saúde para atender ao programa de transplantes, teve o serviço suspenso de forma imediata e foi interditado cautelarmente.
O Ministério ressaltou a gravidade do caso e encaminhou nota à imprensa com uma lista de determinações, entre elas a instalação de auditoria urgente pelo Departamento Nacional de Auditoria do SUS (Denasus) no sistema de transplantes do Rio de Janeiro.
A pasta determina que a testagem de todos os doadores de órgãos no Rio de Janeiro volte a ser feita exclusivamente pelo Hemorio, utilizando o teste NAT, de alta qualidade, produzido pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz). Eventuais irregularidades na contratação do laboratório PCS Saleme, dentre outras providências, também serão apuradas.
"Prestaremos toda a assistência a essas pessoas e a seus familiares", informou a ministra da saúde Nísia Trindade, em vídeo encaminhado à imprensa. "Reitero aqui o compromisso com as ações imediatas e todas aquelas que forem necessárias para apoio a doadores, receptores e suas famílias, bem como para garantir a integridade, a transparência e a alta qualidade do sistema nacional de transplantes, reconhecido por sua qualidade em todo o mundo", ressaltou Trindade.
Laboratório investigado pertence a primo de ex-secretário de Saúde do RJ
De acordo com informações publicadas no portal G1, o laboratório PCS Saleme tem como um dos sócios Matheus Sales Teixeira Bandoli Vieira, primo do ex-secretário de Saúde do estado do Rio de Janeiro Doutor Luizinho, deputado federal e líder do PP na Câmara dos Deputados.
Embora tenha deixado o cargo, Doutor Luizinho era secretário durante o processo de contratação da empresa e, segundo fontes do governo, manteve sua influência na pasta. A irmã do deputado trabalha na Fundação Saúde, órgão que assina o contrato com o laboratório.
Em nota, Doutor Luizinho afirmou conhecer o laboratório, admitiu as relações familiares com um dos sócios e lamentou o ocorrido.
"Enquanto Secretário de Estado de Saúde, mantive a mesma equipe do Programa Estadual de Transplantes da gestão anterior e jamais participei da contratação deste ou de qualquer outro Laboratório", informa a nota do ex-secretário. "É muito triste como um dos maiores defensores do Transplantes no País, cuja minha vida pública está marcada pela ampliação do número de transplantes no Estado, ver casos graves como esse! Espero punição aos responsáveis, independente de quem for", encerra.