Rússia e Belarus são vetadas da abertura das Olimpíadas; Moscou acusa COI de 'racismo'
O Comitê Olímpico Internacional (COI) decidiu na última terça-feira (20) que os os atletas da Rússia e de Belarus não vão poder participar da cerimônia de abertura das Olimpíadas de Paris de 2024 representando seus países. A medida foi tomada como sanção pela guerra da Ucrânia. Belarus é vista como aliada direta de Moscou no conflito.
Os atletas só poderão fazer parte da cerimônia sob uma bandeira de cor especial e uma designação de "atletas individuais neutros". Também foi designado um "hino" específico para tocar na cerimônia e nas premiações dos "atletas neutros".
Segundo a presidente da Federação Russa de Ginástica Rítmica, Irina Viner, a melodia do hino é semelhante a uma "marcha fúnebre". Ela acrescentou que ir aos Jogos sem hino e sem bandeira é "humilhante". Moscou acusa o comitê de "destruir as ideias do espírito olímpico".
De acordo com a decisão do COI, russos e bielorrussos competirão como "atletas individuais neutros", o que implica na proibição de quaisquer símbolos nacionais ou políticos. A bandeira designada aos russos e bielorrussos na competição é azul esverdeada contém um emblema branco sigla AIN (Atletas Neutros Individuais).
Foto da bandeira dos "atletas individuais neutros", postada pelo diretor de Comunicações Corporativas e Assuntos Públicos do COI, Christian Klaue, na rede social X / Christian Klaue / COI / Rede social "X"
"A decisão foi unânime e a lógica é muito clara para nós. Os atletas neutros individuais vão competir como indivíduos, a cerimônia de abertura é um desfile para delegações e times. Eles não estarão em nenhuma delegação", afirmou James MacLeod, diretor do COI para relações com os comitês olímpicos nacionais.
Segundo o COI, no máximo 54 atletas da Rússia e 28 bielorrussos podem se classificar para os jogos de Paris. Nos jogos anteriores em Tóquio, participaram 330 atletas olímpicos da Rússia e 104 bielorrussos. Atletas que "apoiaram ativamente a guerra" e funcionários de agências de aplicação da lei e do exército não serão autorizados a participar dos jogos. Além disso, apenas atletas de esportes individuais destes países podem se qualificar para participar dos Jogos.
Na decisão, o COI observou que regras semelhantes estavam em vigor para os participantes da Iugoslávia nas Olimpíadas de 1992, de acordo com o texto no site do comitê. Foi destacado também que a decisão sobre a participação na cerimônia de encerramento será tomada posteriormente.
A decisão do COI é ainda mais dura do que as restrições aos atletas russos nas últimas edições das Olimpíadas. Desde 2018, os atletas do país não podem competir usando sua bandeira, sendo sancionados inicialmente por conta do escândalo de doping envolvendo o país, mas o número de atletas era significativamente superior.
Nas Olimpíadas de 2018, 2020 e 2022 (incluindo os Jogos de Inverno), os atletas russos competiram com o emblema das Olimpíadas, sendo designados como "Atletas Olímpicos da Rússia", em 2018, e como atletas do "Comitê Olímpico da Rússia" nas edições seguintes. Em 2022, os russos medalhistas subiam ao pódio ao som um fragmento de um concerto de Tchaikovsky sob a bandeira do Comitê Olímpico Nacional.
Rússia acusa COI de 'racismo'
A comentar a decisão, o Ministério das Relações Exteriores da Rússia acusou o COI de "racismo e neonazismo" devido às regras de neutralidade impostas aos atletas olímpicos russos e às possíveis sanções para os atletas.
De acordo com a porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da Rússia, Maria Zakharova, a medida do COI exclui pessoas com base apenas na cidadania.
"Estas decisões demonstram até que ponto o COI se afastou dos seus princípios declarados e caiu no racismo e no neonazismo. A segregação de pessoas com base na nacionalidade, etnia, exclusão de pessoas apenas com base na cidadania de eventos desportivos internacionais é o melhor prova disso."
Já a primeira vice-presidente do Comitê Estatal da Duma para Assuntos Internacionais, Svetlana Zhurova, declarou que os requisitos do COI para os atletas russos são uma discriminação sem precedentes, acrescentando que "tais restrições nunca foram aplicadas a qualquer país do mundo".
O porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, por sua vez, declarou que as restrições do Comité Olímpico Internacional (COI) infringem os seus próprios interesses.
"Percebemos isso de forma negativa. Isso é a destruição da ideia do 'Olimpismo', uma violação dos interesses dos atletas, contradiz a ideologia do movimento olímpico, não fica bem no COI", disse Peskov.
Ele acrescentou que o COI não exige que a Rússia assine quaisquer documentos adicionais relacionados às restrições e esta é uma informação positiva. O Kremlin continuará a acompanhar a evolução da situação em torno das decisões do COI sobre a participação dos russos nas Olimpíadas.