Premiê haitiano reaparece e líder criminoso ameaça guerra civil se ele não deixar o poder
Embora a capital do Haiti, Porto Príncipe, tenha retomado algumas atividades após dias de caos, o país ainda está longe de voltar à normalidade. O principal líder criminoso que fugiu de prisões haitianas no final de semana ameaçou iniciar uma "guerra civil" se o polêmico primeiro-ministro do país, Ariel Henry, seguir no poder.
"Se Ariel Henry não renunciar, se a comunidade internacional continuar apoiando seu governo, seguimos no caminho de uma guerra civil que levará ao genocídio", disse Jimmy Cherizier, vulgo "Barbecue". Ex-policial, ele lidera a coalizão de gangues e teria o apelido pelo costume de queimar inimigos.
A atual crise começou na última quinta quando ataques coordenados alvejaram instalações do governo. No sábado, invasões em prisões libertaram cerca de 3,6 mil detidos, a maioria de gangues criminosas. O governo decretou toque de recolher no dia seguinte, em vigor até esta quarta (6). Estima-se que as gangues controlem a maior parte da capital do país e que a violência tenha feito 15 mil pessoas abandonarem suas casas na cidade.
O Haiti vive uma onda de violência sem precedentes marcada pelo aumento dos confrontos entre a Polícia e gangues na capital do país caribenho / Luckenson JEAN / AFPTV / AFP
Os ataque contra diversos lugares estratégicos tinham o objetivo, segundo as gangues, de derrubar Henry. No poder desde o assassinato do presidente Jovenel Moïse em julho de 2021 — por gangues — deveria ter saído do posto em fevereiro, convocando eleições, mas não o fez.
"Devemos nos unir. Ou o Haiti vira um paraíso para todos ou um inferno para todos", disse Barbecue na segunda-feira. "Não se trata de um pequeno grupo de ricos que vivem em grandes hotéis e decidem o destino dos moradores dos bairros populares."
Premiê desaparecido
De paradeiro desconhecido por dias, Henry reapareceu na terça (5) em Porto Rico, segundo uma autoridade do território dos EUA. "Ele aterrissou em Porto Rico, mas não tenho mais detalhes", disse Sheila Anglero à AFP.
Ariel Henry durante a Assembleia-Geral da ONU de 2023
A polícia e o Exército estão protegendo o aeroporto internacional Toussaint Louverture, mas ainda assim os voos para Porto Príncipe foram cancelados. A vizinha República Dominicana fechou o espaço aéreo com o Haiti.
A comunidade internacional — incluindo o Brasil — vem pedindo por ação externa para conter a onda de violência e caos no país. Uma das alternativas estudadas seria a formação de força de paz com forças de segurança do Quênia — possibilidade que enfrenta grande resistência interna no país africano.
O Haiti é o país mais pobre das Américas e enfrenta grave crise política, humanitária e de segurança desde o assassinato de Moïse em 2021. A ONU calcula que a violência causada pelas gangues mais de dobrou entre os anos de 2022 e 2023.