No Caribe, Lula busca maior integração regional e volta a chamar ação de Israel de 'genocídio'
Em viagem à Guiana nesta quarta-feira (28), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva voltou a chamar o massacre de palestinos conduzido por Israel na faixa de Gaza de "genocídio".
O chefe do Executivo discursou durante o encerramento da 46ª Conferência de Chefes de Governo da Comunidade do Caribe (Caricom) e também disse que o Brasil vai fortalecer a relação com o Caribe.
"Um genocídio na Faixa de Gaza afeta toda a humanidade, porque questiona o nosso próprio senso de humanidade", disse Lula.
O presidente afirmou também que iniciar operações bélicas "confirma uma vez mais a opção preferencial pelos gastos militares, em vez de investimentos no combate à fome na Palestina, na África, na América do Sul ou no Caribe".
Caribe
Em sua fala, o presidente focou na necessidade de integração regional. De acordo com ele, uma das principais rotas para a integração é o escudo da Guiana, relevo desta parte da América do Sul que abrange, além da Guiana, a Venezuela e o Suriname. Ele disse também que Brasil e Caricom estão “lado a lado por uma governança global mais justa”. Segundo o presidente, o Brasil e os países da região têm uma convergência de 80% nas votações na Assembleia da ONU.
O comércio com a região foi uma das questões levantadas por Lula. A Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (ApexBrasil) mostra que, em 2022, as trocas comerciais com América Central e Caribe atingiram US$ 7,3 bilhões (cerca de R$ 35 bi). O volume representa uma recuperação em relação ao pré-pandemia, mas está bem abaixo dos US$ 8,9 bilhões registrados em 2012.
O Brasil tem saldo favorável nas trocas comerciais com a região. No ano passado, o país registrou superávit de US$ 4,6 bilhões (R$ 23 bi), exportando majoritariamente óleos combustíveis de petróleo (22%) e milho não moído (12%).
Alternativa aos EUA
Segundo a internacionalista e professora de História da Universidade Central de Venezuela, Patrícia Méndez, a postura de Lula é importante não só em termos econômicos, mas também políticos e traz opções para os países caribenhos ante a hegemonia dos Estados Unidos na região.
“O Brasil é uma potência sul americana por excelência. Um líder regional, pelo tamanho na economia e na política. Um líder global que pode se tornar um polo multilateral frente a presença dos EUA, e funcionar assim como um contrapeso”, afirma.
Lula afirmou em seu discurso que durante seus dois primeiros governos (2003 a 2010) o Brasil mudou o foco da sua política externa. Se antes as relações eram voltadas para os Estados Unidos e Europa, as relações com países africanos, latinoamericanos e caribenhos ganhou outra proporção.
Para Méndez, essa aproximação se perdeu nos últimos 10 anos por motivos diferentes. “O Brasil está recuperando este papel. Lula retoma essa postura. Se havia dado as costas ao Caribe nos últimos anos por questões econômicas, com Dilma Rousseff, ou geopolíticas, com Michel Temer e Jair Bolsonaro. Isso é importante porque, para as economias do Caribe representa uma liderança importante, com interlocução no G20 e no Brics”, afirmou.
Mais cedo, Lula teve uma reunião bilateral com a primeira-ministra de Barbados, Mia Mottley. O brasileiro mencionou que há 27 voos diários de Barbados para o Reino Unido, enquanto para o Brasil não há voos diretos.
Ainda neste giro pelo Caribe, Lula vai se encontrar com líderes tanto de Guiana como de Venezuela para tentar mediar uma saída diplomática para a região contestada de Essequibo.