Milei completa um ano de governo ultraliberal na Argentina marcado pelo aumento da fome e da extrema pobreza
O extremista de direita Javier Milei completa nesta terça-feira (10) seu primeiro ano de governo na Argentina, marcado pelo aumento da fome e da extrema pobreza no país. Relatório do Observatório Social da Universidade Católica da Argentina (UCA) aponta 49,9% da população abaixo da linha da pobreza, que indica a renda necessária para custear a "cesta básica total", incluindo alimentação, moradia, educação, saúde e transporte.
Ao menos 23 milhões de pessoas se encontram nessa condição, 4 milhões de pessoas a mais em comparação com o final de 2023. O relatório da UCA também aponta o aumento da pobreza infantil, que chegou a 65,5% entre crianças menores de 18 anos, em comparação com 62,9% em 2023.
Dados divulgados em outubro pelo Instituto Nacional de Estatística e Censos (Indec), apontam que a pobreza aumentou 11 pontos percentuais durante os primeiros seis meses do governo, uma escalada histórica, para superar mais da metade da população (52,9%).
A situação está critica a tal ponto de, apesar do discurso ultraliberal, Milei reconhecer a situação de fome enfrentada pelo país e aderir à Aliança Global Contra a Fome a Pobreza proposta apresentada pelo governo brasileiro durante a cúpula de chefes de Estado do G20 em novembro, no Rio de Janeiro (RJ).
Outro relatório, publicado em novembro pelo Centro de Recuperação Argentina da Faculdade de Ciências Econômicas da Universidade de Buenos Aires, aponta que a indigência – pessoas sem meios para sequer custear a "cesta básica alimentar" – cresceu 76% este ano, alcançando mais de 6 milhões de pessoas.
Um relatório do Instituto de Pensamento e Políticas Públicas (IPyPP) aponta corte de 24% nos programas de transferência de renda em comparação com 2023. Dos dez programas ou tipos de benefícios, sete foram descontinuados, levantando dúvidas em relação ao futuro.
Política de arrocho
Quem mais sofreu com a política de arrocho fiscal no país foram os mais de 7 milhões de aposentados e pensionistas cujos rendimentos foram congelados e os subsídios para medicamentos, reduzidos. O presidente Milei vetou lei que lhes concederia um aumento de 8%.
Milei também vetou uma lei que aumentava o orçamento para a educação universitária e congelou bolsas de estudos e de pesquisa científica.
Isso em um ano com uma inflação de quase 200%, no qual governou com orçamento de 2023 que pretende repetir no próximo ano, após mostrar pouco interesse em conseguir a aprovação do Congresso para seu plano de gastos para 2025.
"O governo aplicou um reajuste ortodoxo muito forte para determinar algumas variáveis macroeconômicas com elevado custo social", ao desvalorizar a moeda, desregulamentar a economia e eliminar subsídios sem compensar o impacto nos preços com um aumento da renda, escreveu o Centro de Economia Política(Cepa) em seu relatório de dezembro.
Além disso, mais de 260 mil postos de trabalho foram perdidos este ano e o consumo caiu mais de 20%, embora mostre sinais de recuperação, segundo o relatório.
Enquanto estas transformações econômicas e sociais ocorriam, Milei travou uma "batalha cultural" contra políticos e jornalistas, a quem chamou de corruptos; a justiça social, que considera "uma aberração"; e o Estado, que ele diz querer destruir "a partir de seu interior".
Segundo uma pesquisa da consultoria Zubán Córdoba feita em setembro, 65,7% dos argentinos acreditam que "o ódio e a intolerância estão aumentando" com o governo de Milei.
A organização de jornalistas FOPEA publicou, nesta terça-feira, um relatório segundo o qual o jornalismo foi alvo de 173 ataques no primeiro ano da gestão de Milei, a maioria com origem estatal e onde "a intimidação e a violência digital se mantêm como as principais agressões contra a imprensa".
*Com AFP e Tiempo