EUA rejeitam plano de Netanyahu de reocupar Gaza; para analista, seria o fim da ideia de uma Palestina livre
Os Estados Unidos são contra os planos de Israel de reocupar o território palestino da Faixa de Gaza após a crise atual, disse nesta sexta-feira (23) o secretário de Estado do país, Antony Blinken.
"Não vi o plano. Há alguns princípios básicos que dispusemos muitos meses atrás. Não pode ser uma plataforma para o terrorismo e não deve haver reocupação israelense de Gaza. O tamanho do território de Gaza não deve ser reduzido", afirmou ele durante breve visita à Argentina.
Os planos israelenses foram divulgados por seu premiê, Benjamin Netanyahu, na quinta-feira. Ele inclui "desmilitarização completa" de Gaza, novas administrações para a vida civil e do sistema educacional no território palestino e o fechamento da fronteira com o Egito, via a cidade de Rafah. Tudo supervisionado pelo governo israelense.
A proposta descreve ainda quem deveria governar a Faixa de Gaza. Também prevê o fim das atividades da agência da ONU que ajuda os refugiados palestinos, a UNRWA. Israel havia acusado o órgão de apoiar os ataques do Hamas em 7 de outubro que mataram mais de mil israelenses.
Em seu plano, Israel afirma ainda que não aceita que a comunidade internacional imponha a solução de dois estados – cenário com o qual o país já havia concordado, mas voltou atrás. Na prática, sepultaria oficialmente a ideia de uma Palestina livre.
Análise
O plano de Netanyahu foi prontamente criticado por Mahmoud Abbas, presidente da Autoridade Palestina – entidade que em tese governaria a Cisjordânia, mas é subjugada por Israel, que controla até os movimentos de seus líderes pelo território palestino.
"Se o mundo quer segurança e estabilidade na região, deve acabar com a ocupação israelita dos territórios palestinos e reconhecer o Estado palestino independente com Jerusalém como a sua capital", disse um porta-voz de Abbas.
O analista Arturo Hartmann diz que o plano "deixa explícito que não haverá um Estado palestino". Mas há outros pontos a serem vistos com atenção.
"Ele também reconfiguraria a demografia, a distribuição territorial. O que aconteceria com as mais de um milhão de pessoas atualmente em Rafah? O plano prevê novos administradores que não sejam o Hamas [grupo que governa Gaza desde 2007], nem da Autoridade Palestina", prossegue.
"Ou seja, pretende criar uma nova elite, novos atores que colaborem com a ocupação israelense. Impedir a atuação da agência da ONU é um golpe contra o status de refugiados que os palestinos têm, e desobriga assim Israel de reconhecer o direito de retorno – como reza uma decisão da ONU – ou mesmo pagar indenizações."
"Desta forma, Israel vai minando as possibilidades práticas, os fóruns e instituições, de os palestinos buscarem reconhecimento para sua causa", conclui.
Negociações
Nesta sexta-feira, prosseguiram os bombardeios israelenses contra Rafah e Khan Yunis, elevando o número total de palestinos assassinados desde outubro para perto de 30 mil.
Faixa de Gaza / Brasil de Fato
Enquanto isso, representantes do serviço secreto de Israel, o Mossad e da agência interna de inteligência, o Shin Bet, se reúnem em Paris com enviados do Hamas para negociar um cessar-fogo.
Nesta semana, cresceram os apelos internacionais por uma trégua nos bombardeios para a troca de reféns e entrada de ajuda humanitária, mas os EUA vetaram na última terça-feira mais uma resolução da ONU que determinava a pausa.