Eleição de Trump esvazia G20 e COP30, eventos centrais para a diplomacia brasileira
A eleição de Donald Trump para a presidência dos Estados Unidos esvazia dois eventos centrais para a diplomacia brasileira no governo de Luiz Inácio Lula da Silva: a reunião do G20 que acontece nos dias 18 e 19 de novembro no Rio de Janeiro, sob a presidência Brasileira do grupo e a COP30, que também acontece no Brasil em 2025, em Belém (PA) no coração da Amazônia brasileira.
"A vitória do Trump tira as duas 'meninas dos olhos' para a diplomacia do governo Lula. Esvazia a reunião do G20 este mês e acaba com a COP30 ano que vem. Tirou o 'brinquedo da sala' do governo Lula, o Itamaraty vai ter que trabalhar com outros objetos pro próximo período, porque nesse a gente ficou apequenado", analisa o coordenador do Instituto Tricontinental, Miguel Stedile, comentarista de O Estrangeiro, o podcast de política internacional do Brasil de Fato que teve sua estreia nesta quinta-feira (7).
Stedile classifica a diplomacia brasileira, sob o comando de Mauro Vieira no Ministério das Relações Exteriores como "medíocre" e aponta que, a partir da eleição de Trump, o papel do país tende a ser de "figurante" no cenário internacional, caminhando para uma posição de "terceiro mundo" em relação aos polos formados pela oposição entre EUA e China, que deve se acentuar com o novo governo estadunidense.
"Quando você tem uma diplomacia brasileira medíocre como é hoje, que basicamente entende que a função do Itamaraty é vender soja para a União Europeia, China e os Estados Unidos, se torna irrelevante", diz Stedile.
A partir da posição do Brasil no encontro do Brics na Rússia este ano, e o fato de o país não ter ingressado até o momento na Nova Rota da Seda Chinesa, o historiador considera o Itamaraty "não quer tomar essa decisão de fazer parte de outro cenário" para poder ''vender soja para os dois lados" – tanto para os EA quanto para China.
"A compreensão que o Brasil demonstrou em Kazan, de não entender os Brics como polo não só econômico, mas da possibilidade de, como a Rússia queria, gestar um outro sistema financeiro etc, e só pensar nos Brics como alavanca para tentar um lugar no Conselho de Segurança da ONU, quando parte dos Brics está dizendo que o sistema ONU está rachado, então o Brasil está fazendo parte do terceiro mundo".
O podcast O Estrangeiro é apresentado por Lucas Estanislau e Rodrigo Durão ao vivo toda quinta-feira às 10h.