Das 63 palestinas que Israel mata por dia em Gaza, 37 são mães, diz ONU
O massacre israelense na Faixa de Gaza vem matando em média 63 mulheres por dia. Destas, 37 eram mães e deixaram filhos órfãos, afirmou a Agência das Nações Unidas de Assistência aos Refugiados da Palestina no Oriente Médio (UNRWA).
Os números divulgados no Dia Internacional de Luta das Mulheres indicam o cenário desesperador no qual elas vivem no território palestino ocupado, e sob bombardeios diários desde o dia 7 de outubro.
"As mulheres em Gaza enfrentam uma guerra brutal. Pelo menos nove mil delas foram mortas e muitas outras estão sob escombros", disse a agência em seu boletim diário. Das "63 mulheres" mortas por dia, "37 são mães que deixam famílias para trás".
O ministro da Saúde de Gaza diz que as cerca de "60 mil gestantes sofrem de desnutrição, desidratação e falta de cuidados. O silêncio da comunidade internacional contribui com o genocídio das mulheres palestinas", disse Ashraf al-Qudra.
A realidade brutal da Faixa de Gaza atinge mais forte as mulheres / m.z.gaza
O massacre já causou o maior deslocamento em massa de palestinos desde a criação de Israel em 1948, atingindo cerca de 2 milhões de pessoas. A maioria está aglomerada na cidade de Rafah, na fronteira de Gaza com o Egito, local que também sofre bombardeios israelenses.
O que é ser palestina?
Algumas dessas pessoas expulsas pela Nakba (tragédia em árabe) de 1948 eram da família de Batou Alaa El-Din Am Ali. Refugiados na Síria e depois no Egito, ela chegou no Brasil em 2019. Ao Brasil de Fato, a jovem professora, tradutora e dona de um canal no YouTube, tenta explicar o que significa a realidade enfrentada pelas mulheres de sua nação.
"Ser palestina é sentir sempre medo e insegurança por não ter a garantia de pertencer a um país. É ser sempre hóspede, não pertencer, estar de favor em algum lugar e poder ser expulso. Por isso, também, é ser forte."
De São Paulo, ela acompanha as notícias terríveis do massacre, o mais brutal dos vários já vistos. "Dessa vez é muito pior, Gaza nunca foi tão destruída como dessa vez. Um mês depois do início do massacre, cerca de 40% das residências já tinham sido destruídas. Nunca vimos essa escala de sofrimento: fome, sede, falta de remédios, cirurgias sem anestesia."
Não só a violência é a maior, mas o que ela vê como um sucesso de relações públicas.
"Hoje Israel consegue algo inédito: compaixão internacional por causa da propaganda que fizeram no começo, a história mentirosa de que decapitaram crianças, que os ajudou a se colocarem no lugar de vítimas para legitimar o genocídio."
"Aqui mesmo no Brasil tem muita gente achando que Israel luta uma guerra santa contra terroristas." Apesar disso, ela explica o motivo de a população palestina relutar em abandonar a terra em busca de segurança em outro lugar, longe das bombas israelenses.
"A população de todo país ocupado pensa em resistir. Não há povo que aceite com tranquilidade alguém se apoderar de seu país. Claro que há os que não conseguem se sacrificar e preferem fugir, ter uma vida normal, confortável. Mas no caso palestino, é fortíssimo o desejo de resistir."
Sobre o futuro, ela comenta os planos anunciados por Israel de uma Faixa de Gaza sem o Hamas ou grupos que se oponham à seu controle.
"Há políticos que pensam em um futuro em que não exista resistência, criar uma geração que 'ame' Israel, mas não imagino como isso seria possível. Como amar o colonizador? Acabar com o Hamas não acabaria com a resistência, já que ela nasce do sentimento de injustiça", diz. "As crianças palestinas se nutrem mais de resistência do que de leite."