Com Xi Jinping e Biden em fim de mandato, Cúpula do G20 começa nesta segunda (18) no Rio de Janeiro
A Cúpula de Líderes do G20, que reúne as grandes potências mundiais e em desenvolvimento, começa nesta segunda-feira (18) no Museu de Arte Moderna (MAM) no Rio de Janeiro. Na primeira vez em que acontece no Brasil, o encontro tem a presença confirmada de 55 delegações de 40 países. Entre os presidentes confirmados estão o estadunidense Joe Biden, o chinês Xi Jinping e a sul-africana Cyril Ramaphosa.
A expectativa mundial em relação ao evento de dois dias mudou após a eleição de Donald Trump nos EUA. A delegação do governo Biden, prestes a acabar, terá pouco poder de decisão sobre ações futuras dos Estados Unidos relacionadas a alguns dos principais temas que serão debatidos no G20. Entre eles estão combate à fome, guerras na Ucrânia e na Palestina, emergência climática, transição energética e mudança na governança global.
Aliança contra a fome
A cerimônia de abertura da Cúpula do G20, após a recepção dos líderes mundiais pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e pela primeira-dama Janja Lula da Silva, terá como tônica principal o lançamento da Aliança Global Contra a Fome e a Pobreza. É brasileira a iniciativa desta articulação entre países e organizações internacionais para acelerar medidas de combate à fome até 2030.
Conforme adiantou o embaixador brasileiro Mauricio Lyrio em coletiva de imprensa em Brasília, o governo federal pretende fazer dessa aliança um dos marcos centrais da edição brasileira da cúpula do G20.
"Há uma mobilização dos países para que se consiga ter resultados mais efetivos no combate à fome em relação ao que tem se estabelecido como metas dos objetivos do desenvolvimento sustentável", declarou Lyrio.
Governança global
No período da tarde da segunda-feira (18), a reunião sobre reforma da governança global será restrita aos chefes de Estado. Eles devem discutir as atuações e formas organizativas das principais instituições financeiras internacionais, tais como o Fundo Monetário Internacional (FMI), o Banco Mundial, a Organização Mundial do Comércio (OMC) e a própria Organização das Nações Unidas (ONU).
O foco, detalhou Lyrio, será a "reforma das instituições financeiras internacionais, basicamente o conjunto de instituições nascidas com Bretton Woods".
Em setembro, após participar da Assembleia Geral da ONU em Nova York (EUA), o presidente Lula defendeu o fim do poder de veto no Conselho de Segurança e criticou a dificuldade de intervenção da organização nas guerras em curso no planeta.
"O que vemos em Israel, na Faixa de Gaza e agora no Líbano é uma coisa que não tem precedente", classificou o chefe de Estado brasileiro na ocasião, ao citar as tentativas de cessar-fogo da ONU ignoradas pelo primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu. "Por isso estamos na briga de fortalecer a ONU como um instrumento que tenha força para tomar decisão e fazer as coisas acontecerem", defendeu Lula, em Nova York.
Transições energéticas
A crise climática e as transições energéticas serão tema da cúpula na terça (19) pela manhã. Os países do G20 são os principais emissores de carbono e gases de efeito estufa no mundo.
Recentemente, o governo brasileiro – representado na 29ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (COP29) em Azerbaijão pelo vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB) e a ministra Marina Silva – foi criticado por organizações ambientalistas. O plano apresentado de reduzir gases de efeito estufa entre 59% e 67% até 2035 foi considerado "insuficiente" e "pouco ambicioso" por entidades como o Observatório do Clima, o Greenpeace e a WWF Brasil.
Ainda no último dia da Cúpula na capital carioca, haverá a declaração de líderes do G20. Estão previstas mensagens de promoção de paz referentes a conflitos armados no planeta.
No último episódio de O Estrangeiro, podcast de política internacional do Brasil de Fato, o analista político Marco Fernandes avaliou que o governo republicano de Trump nos Estados Unidos deve considerar perda de recurso o investimento na Ucrânia contra a força militar russa. Na análise de Fernandes, o mundo viverá uma gestão estadunidense mais agressiva contra a China.
O analista político defende que há um esvaziamento político da reunião do G20 e que, por isso, "é hora de o Brasil voltar a pensar nos Brics como uma plataforma onde há a possibilidade de chegar a consensos sobre temas fundamentais".
Ao final da terça-feira (19) acontecerá uma cerimônia em que o Brasil transmitirá a presidência do G20 para a África do Sul, que assumirá a liderança da organização até 2025.