Jazigos alagam e caixões de bebês ficam boiando em cemitério privatizado pela prefeitura de SP
Imagens obtidas pelo Brasil de Fato (veja vídeo abaixo) mostram caixões de bebês boiando em jazigos alagados no cemitério da Vila Formosa, na zona leste de São Paulo. Trabalhadores do local foram surpreendidos com a inundação quando chegaram para trabalhar na última terça-feira (6).
"São vários jazigos que estão tendo esse tipo de problema, não é apenas aquela área (das imagens) que está alagada. Há obras irregulares no cemitério e desconfiamos que são essas obras que provocaram a inundação", afirmou uma fonte ligada ao cemitério, que aceitou falar com o Brasil de Fato em condição de anonimato.
De acordo com os trabalhadores, nesta sexta-feira (9) a área seguia alagada e alguns caixões ainda estavam no local. A preocupação é com a possível contaminação do solo, que pode ocorrer durante o processo de decomposição dos cadáveres.
Os 22 cemitérios públicos de São Paulo, além do crematório da Vila Alpina (na zona leste), passaram a ser administrados pela iniciativa privada em março de 2023. A concessão vai durar 25 anos, e os blocos são operados por quatro concessionárias.
O Vila Formosa, maior cemitério da América Latina e a quarta maior área verde da cidade de São Paulo, é administrado pela Consolare, que no processo de privatização também ficou responsável pelos cemitérios da Consolação, Quarta Parada, Santana, Tremembé e Vila Mariana.
O vereador Celso Giannazi (PSOL), autor de um pedido de CPI para investigar a privatização do sistema funerário de São Paulo, lamentou. "É uma situação triste, lamentável e catastrófica que estamos vivendo em São Paulo desde o processo de privatização."
"A privatização está sendo um absurdo caos, o prefeito Ricardo Nunes trata a morte com absoluto descaso. Não temos uma política pública séria. É muito importante instalar essa CPI, que ela seja imediatamente instalada. É um absurdo o que essa administração do Ricardo Nunes fez com o serviço funerário", finalizou o parlamentar.
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O pedido da CPI do Sistema Funerário está parado na gaveta do presidente da Câmara Municipal, o vereador Milton Leite (União Brasil), assim como outras 45 solicitações de investigação formuladas pelos parlamentares.
Outro lado
Procurada, a Prefeitura de São Paulo não se manifestou até o fechamento da matéria. Caso o faça, o texto será atualizado.
A Consolare enviou uma nota dizendo "que o Cemitério Vila Formosa está passando por reformas estruturais, entre elas a substituição das covas rasas (onde as urnas eram sepultadas diretamente na terra) por gavetas de concreto. Trata-se de processo mais sustentável e adequado, que está seguindo todas as regras de engenharia. As obras estão em linha, também, com as legislações ambientais vigentes, sendo aprovadas pelos órgãos competentes."
Ainda de acordo com a empresa, "as gavetas não têm nenhum contato com água do lençol freático, uma vez que se trata de uma construção estanque, e a água identificada na imagem é proveniente de chuva. A Consolare esclarece, ainda, que essas são urnas utilizadas no sepultamento de membros e que a água foi completamente bombeada antes da finalização do processo."