Futuro presidente do BC, Galípolo agrada 'gregos e troianos', e queda de juros vira incógnita para 2025
O economista Gabriel Galípolo será o novo presidente do Banco Central (BC). Sua indicação foi aprovada nesta terça-feira (8) na Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) e pelo Plenário do Senado. Com isso, ele está apto a substituir Roberto Campos Neto na chefia do BC a partir de janeiro de 2025.
Galípolo recebeu amplo apoio de senadores para ocupar o BC, incluindo de parlamentares de direita e até bolsonaristas, como Damares Alves (Republicanos). Na CAE, sua indicação foi aprovada por unanimidade: 26 votos a zero. No plenário, foram 66 votos a 5.
Tamanho apoio criou uma incógnita sobre a gestão de Galípolo no BC. Ele foi indicado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) com a expectativa de mudar principalmente a política de juros administrada pelo BC, criticada pelo próprio Lula.
Galípolo, porém, não condenou essa gestão quando foi sabatinado na CAE. Lá, ele falou por cerca de quatro horas. Durante esse tempo, elogiou Campos Neto – sobre quem Lula disse que trabalha para o mal do país – e não deu qualquer indicação sobre como a taxa básica de juros, a Selic, será definida sob sua presidência.
Weslley Cantelmo, economista e presidente do Instituto Economias e Planejamento, ressaltou que Galípolo pode ter agido politicamente para assegurar os votos necessários para a aprovação de seu nome. Afinal, era esse seu objetivo nesta terça.
Cantelmo reclamou que o futuro presidente do BC não fez qualquer sinalização de que vai se diferenciar de Campos Neto. "O Galípolo não está tão distante dos economistas que operam no mercado financeiro", disse ele.
Mauricio Weiss, economista e professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), também ponderou que Galípolo foi ao Senado visando sua aprovação. Ainda assim, ressaltou que sua forma de ver a economia gera dúvidas. "Até agora ele não se mostrou diferente do Campos Neto. Vamos aguardar".
Selic contra inflação
Eric Gil Dantas, economista do Instituto Brasileiro de Estudos Políticos e Sociais (Ibeps) e autor de um dos artigos do livro Os Mandarins da Economia: Presidentes e Diretores do Banco Central Do Brasil, também achou Galípolo contido em sua sabatina. Disse também que tamanho conservadorismo lhe gerou preocupações.
Galípolo foi perguntado pelo senador Bene Camacho (PSD-MA) sobre formas de conter a inflação além da taxa de juros. Respondeu basicamente que só há o juros.
"Se ele leva isto a cabo, continuará reproduzindo exatamente o comportamento do seu antecessor, mesmo grande parte da inflação dos últimos anos sendo por mudanças climáticas, guerras, preços internacionais, mudanças tributárias ou outros fatores que nada tem a ver com a demanda, a única coisa que ele fará será aumentar os juros", reclamou Dantas. "Mas isso obviamente vai agradar o mercado financeiro."
Quem é Galípolo
Galípolo, assim como Campos Neto, é um ex-banqueiro. Foi presidente do Banco Fator, focado em investimentos financeiros, de 2017 a 2021. Campos Neto presidiu o Santander. Bem antes disso, Galípolo fez graduação e mestrado em Economia na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP).
Ele deixou a academia em 2008. De lá, foi trabalhar em secretarias do governo do estado de São Paulo durante a gestão de José Serra (PSDB). No governo Serra, dirigiu a área de estruturação de projetos de concessões e parcerias público-privadas (PPPs).
Galípolo deixou o governo em 2009 e fundou uma consultoria própria, com a qual trabalhou mesmo ocupando cargo de chefia no Banco Fator, até 2022.
Depois, virou conselheiro da Federação da Indústria do Estado de São Paulo (Fiesp) e pesquisador do Centro Brasileiro de Relações Internacionais (Cebri). Em 2023, após a posse de Lula, foi convidado para ser secretário executivo do Ministério da Fazenda, o número 2 da pasta de Haddad.
Galípolo concedeu entrevista ao Brasil de Fato em maio de 2023, durante a Feira Nacional da Reforma Agrária. Na época ocupando a secretaria-executiva do Ministério da Fazenda, o economista frisou sua disposição par ao diálogo com todos os setores da sociedade.
"A gente precisa voltar a ter um espectro político democrático dentro do país, em que a concorrência, a competição é absolutamente normal, mas dentro desse espectro político democrático. O diálogo é o ponto essencial. A gente tem que dialogar com todo mundo. Eu vim agora diretamente de um evento da Faria Lima para cá [para a Feira Nacional da Reforma Agrária]", afirmou, naquela oportunidade.