Estudantes da UnDF são surpreendidos pela PM durante atividade de greve nesta quarta-feira (2)
Durante uma atividade de greve nesta quarta-feira (4), estudantes da Universidade do Distrito Federal (UnDF) foram surpreendidos pela Polícia Militar do DF (PMDF). Segundo informações, a PMDF teria atendido a um chamado da Prefeitura da instituição, que acusou os discentes de "depredação de patrimônio público".
A acusação ocorreu após os estudantes removerem cartazes da administração da UnDF. Sofia Cartaxo, diretora da União Nacional dos Estudantes (UNE) e militante do Levante Popular da Juventude, que acompanha a greve dos estudantes, explica que essa foi uma resposta à ação da própria prefeitura da universidade, uma vez que eles já haviam retirado os cartazes dos discentes.
"Os estudantes haviam colado cartazes com fita crepe pela universidade com as reivindicações. Nisso, a administração retirou, falando que estavam depredando patrimônio público, e que iam chamar a Polícia. Eles se irritaram por isso. Não era depredação, era colagem de cartazes com fita crepe", explica Sofia.
A greve estudantil na UnDF foi aprovada no dia 24 de setembro. Os discentes organizaram duas assembleias, sendo a primeira virtual, no dia 18 de setembro, que contou com 27,9% de aprovação pelo estado de greve, e outra, na terça-feira (24), realizada de forma presencial. Segundo o movimento estudantil da universidade, na ocasião, a greve foi aprovada com apoio de 41,65% dos discentes.
A diretora da UNE ainda conta que a instituição invalida o estado de greve dos estudantes. Além disso, a administração da universidade também está acusando os discentes de ameaças contra servidores e desacato a autoridade. "Nossa greve foi deflagrada com 41% de aprovação, coisa que não se vê em universidade nenhuma", diz.
Segundo uma professora da universidade — que preferiu não se identificar — durante a ação policial, não houve confronto, apenas uma conversa entre os membros da comunidade acadêmica e a PMDF. Ela conta que, quando chegou no local, havia diversos agentes conversando com o prefeito da universidade. "Toda a conversa foi muito rápida. Os policiais informaram que estavam atendendo o chamado da prefeitura da universidade", diz.
Quando os policiais se retiraram da instituição, a professora conta que foi questionar o representante da prefeitura sobre a necessidade de chamar os agentes para tratar sobre retirada de cartazes pelos estudantes. Na ocasião, ele teria dito que "não é por conta de um cartaz, é por conta das ações. Qualquer coisa que mexa no patrimônio da universidade, eu vou tomar minhas providências. Pode ser qualquer coisa, se arrancar sem minha autorização, não pode".
Ela ainda relata que, quando ele foi questionado se a retirada dos cartazes e chamar a PMDF é uma política institucional da UnDF, ele teria respondido que não, é uma ação dele.
Procurada pelo Brasil de Fato DF, a UnDF afirmou que a Reitoria Pro Tempore acionou o 24º Batalhão da Polícia Militar, localizado a menos de 100 metros do Campus Norte da UnDF, como medida para "garantir a segurança dos servidores da UnDF e de toda a comunidade acadêmica, bem como a integridade do patrimônio da universidade".
Em nota, a instituição afirma que, ciente dos movimentos de protagonismo estudantil pela busca por melhorias nos espaços universitários, a reitoria busca garantiar a ordem, integridade de sua comunidade acadêmica e manutenção das atividades. Segundo ela, o suporte dos servidores do 24º Batalhão da Polícia Militar foi "para acompanhar as ações realizadas no Campus Norte nesta manhã".
Cartazes da administração da UnDF / Foto: Sofia Cartaxo
Também procurada pelo jornal, a Polícia Militar do DF informa que foi acionada para conter uma manifestação na UnDF, onde estudantes realizavam uma greve.
Em nota, o órgão escreve que os estudantes estavam "impedindo o acesso às aulas e danificando materiais". "Ao chegar ao local, a PMDF constatou que a situação já havia sido controlada pelos próprios alunos, e a desordem foi cessada. A PMDF se colocou à disposição da universidade e, posteriormente, retornou às suas atividades de rotina", escreve.
Estudantes em greve
Fundada em 2021, a universidade teve o primeiro grupo de docentes empossados em 2023, com as aulas inauguradas em julho do ano passado. Com isso, a instituição tem pouco mais de um ano de atividades e, mesmo com este tempo, o funcionamento da universidade chama atenção pela precariedade das condições para os estudantes e professores.
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O diretor acadêmico do Centro Acadêmico de Serviço Social da UnDF e representante do Comitê de Greve do Conselho Estudantil, Luiz Guilherme Lizio, conta que desde o primeiro semestre da instituição, existe uma falta de estrutura para atender às necessidades básicas dos estudantes.
"Temos um conjunto de questões, como falta total de opções de alimentação e transporte que atenda aos estudantes. Além de termos uma política de permanência estudantil ineficiente, falta de participação na gestão compartilhada da universidade, um currículo duvidoso e com pouca abertura para participação docente e discente nas alterações e adequações, e sempre marcados por uma dificuldade imensa em endereçar tantas demandas junto à reitoria", pontua o estudante.
Falta de estrutura para atender às necessidades básicas dos estudantes, segundo representação estudantil / Foto: Sofia Cartaxo
Ele ainda conta que foi feito um balanço pelos próprios estudantes que revelou que, das 980 vagas da universidade, mais de 45% já estão desocupadas. "Atualmente, somos apenas 533 estudantes, isso em apenas três semestres de aulas", destaca.
A situação é particularmente dramática para estudantes de periferia e/ou vulnerabilidade econômica e social, principalmente, aqueles que recebiam auxílios e deixaram de receber porque a universidade não possui sistema de continuidade do benefício para estudantes já contemplados. "Tivemos reuniões diversas vezes para buscar endereçar essas questões, mas a gestão se mostra pouco ou nada alinhada à urgência que exige o trato dessas questões. Diversas soluções que sugerimos, por mais que sejam burocráticas, não tem sido buscada para lidar com a situação e a evasão assustadora que existe por lá", destaca Lizio.
A questão da alimentação também é uma reivindicação dos estudantes. Atualmente, a instituição não possui um Restaurante Universitário (RU), e no campus central, localizado no Lago Norte, não há nenhuma lanchonete no local. “O pessoal vem para cá com fome. A universidade não foi pensada para atender essa parte da alimentação dos estudantes”, relata Sofia Cartaxo.
Sem valorização profissional
Está não é a única greve em curso na UnDF. Em agosto, os professores já haviam realizado uma série de paralisação das atividades na instituição, em razão de um longo processo de tentativas frustradas de negociação com a reitoria da UnDF, como informou o Sindicato dos Docentes da UnDF (SindUnDF).
Na última semana, os docentes realizaram uma assembleia geral para discutir a deflagração da greve, que não foi aprovada por apenas um voto de diferença. A paralisação cobra uma série de reivindicações, como uma perspectiva de progressão na carreira e maior participação na construção do presente do futuro da Universidade.
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Entre as reivindicações, está a reestruturação e fortalecimento da carreira de magistério superior. Segundo o SindUnDF, a carreira dos docentes foi criada em descompasso com o de outras universidades públicas e atualmente um professor com Doutorado, com carga horária de 40 horas, recebe um salário médio de R$ 6 mil. De acordo com pesquisa nos editais para o mesmo cargo na Universidade de Brasília (UnB), o salário inicial é de cerca de R$ 11 mil.
Também está na pauta dos docentes a instalação imediata dos Conselhos Superiores na universidade, que consistem espaços democráticos nos quais os três segmentos da comunidade universitária deliberam sobre os assuntos mais importantes da vida institucional. Atualmente, a instituição não possui nenhum Conselho Superior em funcionamento.
Atividades de greve
Lizio conta que as atividades têm sido feitas em torno do reconhecimento da greve estudantil e legitimidade das assembleias. "Tem sido um conjunto de ações pressionando a secretaria acadêmica a reconhecer o direito, abonar as faltas ou então suspender o calendário acadêmico", explica.
Também questionada sobre a greve estudantil e presença dos estudantes, a Reitoria Pro Tempore destaca que, no dia 27 de setembro, enfatizou para toda a comunidade acadêmica sobre a manutenção do Calendário Acadêmico de 2024, que todas as atividades universitárias deveriam ter seguimento nos campi da instituição.
Segundo a universidade, a decisão leva em conta alguns fatores fundamentais, sendo eles a autonomia universitária da UnDF; o resultado da assembleia docente realizada no dia 26, que decidiu pela continuidade das atividades universitárias; e a condição de oferta presencial de todos os cursos de graduação, nos termos das regulações definidas pelo Conselho de Educação do DF, do Ministério da Educação, das Resoluções do Conselho Nacional de Educação e das diretrizes curriculares.
"A manutenção das atividades acadêmicas da UnDF visa a cumprir o dever institucional de garantir a oferta de educação superior pública distrital, além de atender à posição da maioria dos estudantes e dos docentes, que optaram pela não realização da paralisação das atividades, que resultam em prejuízos pedagógicos e acadêmicos para a comunidade universitária", mostra nota.
Nesta terça-feira (1), os estudantes estiveram na Câmara Legislativa do Distrito Federal (CLDF) para reivindicar melhores condições de estudo na instituição. Na ocasião, a substituição da atual reitora, Simone Benck, foi sugerida por alguns deputados.
O presidente da Câmara Legislativa, deputado Wellington Luiz (MDB), e o presidente da Comissão de Educação, Saúde e Cultura (CESC), deputado Gabriel Magno (PT), informaram que a Casa deverá realizar audiência pública em breve para buscar soluções aos problemas da nova universidade.
Ainda hoje à noite, os estudantes devem realizar um ato, que envolve uma marcha do campus central da UnDF até a parada do Deck Lago Norte.
Nesta quinta-feira (3), os estudantes vão realizar uma atividade no Parque Tecnológico de Brasília (Biotic), que é a estrutura física da Reitoria. Já na sexta-feira (4), os discentes estarão presentes no campus central da UnDF para um ato unificado com os docentes.
Leia a nota da UnDF na íntegra
"A Reitoria Pro Tempore da Universidade do Distrito Federal (UnDF) informa que acionou, na manhã do dia 2 de outubro, o 24º Batalhão da Polícia Militar, localizado a menos de 100 metros do Campus Norte da UnDF, como medida para garantir a segurança dos servidores da UnDF e de toda a comunidade acadêmica, bem como a integridade do patrimônio da universidade.
Ciente dos movimentos de protagonismo estudantil pela busca por melhorias nos espaços universitários, a reitoria, em virtude de suas atribuições e responsabilidades legais, com vista à garantia da ordem, da integridade de sua comunidade acadêmica e da manutenção das atividades administrativas e acadêmicas, solicitou o suporte dos servidores do 24º Batalhão da Polícia Militar para acompanhar as ações realizadas no Campus Norte nesta manhã. Este batalhão é o equipamento de segurança pública mais próximo do Campus Norte e, diuturnamente, zela pela segurança de toda a comunidade ao redor.
Quanto ao movimento dos estudantes, é importante esclarecer que no dia 27/9/2024, a Reitoria Pro Tempore da Universidade do Distrito Federal, no uso de suas atribuições legais, administrativas e regimentais, enfatizou para toda sua comunidade acadêmica sobre a manutenção do Calendário Acadêmico de 2024, que todas as atividades universitárias deveriam ter seguimento nos campi da instituição.
A decisão leva em conta alguns fatores fundamentais tais como: a autonomia universitária da UnDF; o resultado da asssembleia docente realizada em 26/9/2024, que decidiu pela continuidade das atividades universitárias; e a condição de oferta presencial de todos os cursos de graduação, nos termos das regulações definidas pelo Conselho de Educação do DF, do Ministério da Educação, das Resoluções do Conselho Nacional de Educação e das diretrizes curriculares.
A manutenção das atividades acadêmicas da UnDF visa a cumprir o dever institucional de garantir a oferta de educação superior pública distrital, além de atender à posição da maioria dos estudantes e dos docentes, que optaram pela não realização da paralisação das atividades, que resultam em prejuízos pedagógicos e acadêmicos para a comunidade universitária.
A reitoria reitera sua acolhida aos movimentos estudantis que protagonizam a importância da luta propositiva, transparente e dialógica por melhorias nos espaços universitários. Nesse sentido, informa que novas agendas serão firmadas para continuidade de diálogo com os representantes estudantis de turmas a fim de serem discutidas as demandas apresentadas dentro dos tempos, responsabilidades e princípios da Administração Pública."
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Fonte: BdF Distrito Federal