Criança de 4 anos morta em ação policial nesta terça (5) em Santos (SP) perdeu o pai em fevereiro baleado por PMs
Uma criança de 4 anos foi morta durante ação da Polícia Militar (PM) na Baixada Santista, no litoral paulista, nesta terça-feira (5). Ryan da Silva Andrade Santos estava brincando em uma rua do Morro São Bento, em Santos, onde mora, quando foi atingido pelos disparos. Dois adolescentes, um de 15 anos e outro de 17, também foram baleados: um deles morreu e o outro foi socorrido.
"Os policiais chegaram atirando em cima de dois meninos, que eu acho que estavam 'de fuga'. Só que eles viram que a gente estava na parte de cima [da rua] com as crianças e tudo, mas começaram a atirar", relatou, ao portal G1, a cozinheira Beatriz da Silva Rosa, de 29 anos, mãe de Ryan, que presenciou a cena.
Ainda de acordo com o G1, a criança era filha de Leonel Andrade Santos, de 36 anos, um dos 56 mortos durante a Operação Verão, que ocorreu entre janeiro e abril deste ano na Baixada Santista.
A Secretaria de Segurança Pública de São Paulo (SSP-SP) disse, em nota, que a morte de Ryan ocorreu durante um confronto entre criminosos e policiais militares. Segundo o órgão, os agentes faziam patrulhamento em uma área de tráfico de drogas quando foram atacados "por um grupo de aproximadamente 10 criminosos".
A Delegacia Seccional de Santos instaurou inquérito e determinou perícia nas armas apreendidas e no local da ação. O objetivo, de acordo com a SSP-SP, é esclarecer a origem do disparo que atingiu a criança.
Foi instaurado ainda Inquérito Policial Militar (IPM) para investigar a ação dos policiais envolvidos na ocorrência, os quais foram afastados das atividades.
Mortes suspeitas
Familiares de Leonel Andrade Santos, ouvidos pelo site Alma Preta logo após as mortes, questionam a versão de confronto da PM. O boletim de ocorrência, conforme relato dos policiais, diz que Santos efetuou disparos contra os agentes, que reagiram. Os PMs também disseram que o homem morto carregava drogas, como crack e haxixe.
Leonel usava muletas, o que, segundo os familiares, torna inverossímil a versão policial. "Ele mal conseguia segurar as muletas dele, uma perna dele era atrofiada, era uma menor que a outra. Como ele ia correr se ele não conseguia largar das muletas dele? Porque depois de atirar ele ia ter que correr, e como ele ia fazer isso com a muleta? É inviável", relatou um membro da família ao Alma Preta.
Violência policial na Baixada
Desde 2023, primeiro ano do governo Tarcísio de Freitas, a Baixada Santista tem sido foco de operações policiais repressivas com alto número de mortes. De julho a setembro de 2023, a Operação Escudo resultou na morte de 28 pessoas.
Em 2024, de janeiro a abril, a Operação Verão, do governo paulista, deixou 56 civis mortos, além de dois policiais.
As ações são classificadas por organizações de direitos humanos, como o Instituto Sou da Paz, como "operações institucionais de vingança", tendo em vista que ocorrem após a morte de policiais e acumulam denúncias de tortura e execuções sumárias.
Sob o comando secretário de Segurança Pública e ex-policial da Rota, Guilherme Derrite, as operações Escudo e Verão são as mais letais ações oficiais das forças de segurança de São Paulo desde o massacre do Carandiru, em 1992.