No RJ, União de Maricá desfila na Sapucaí pela primeira vez com enredo em homenagem a sambistas
A escola de samba União de Maricá vai desfilar pela primeira vez no Sambódromo da Marquês de Sapucaí nesta sexta-feira (9), disputando a Série Ouro (antigo Grupo de Acesso) do carnaval carioca. A letra do samba enredo da escola brinca com um bordão popular entre os moradores e faz uma exaltação ao amor pela cidade com o refrão “Maricá é meu país, meu país é Maricá”. A agremiação levará para a apoteose 1400 componentes, quatro carros alegóricos e dois tripés.
O enredo O Esperançar do Poeta, do carnavalesco André Rodrigues, homenageia o ato de compor samba, tendo Guaracy Sant’Anna como o fio condutor. Guará, como ficou conhecido, é o autor de sambas marcantes, como Sorriso Aberto, eternizado na voz de Jovelina Pérola Negra, Singelo Menestrel, Catatau, dentre outros.
Para André Rodrigues, o enredo busca valorizar um segmento da nossa cultura popular que é pouco lembrado, até marginalizado pela sociedade, visto como "vagabundo", como diz a letra do samba. É por isso que a União de Maricá vai desfilar em homenagem aos compositores que através dos seus sambas retratam o cotidiano das favelas e periferias, mas também fazem denúncias sobre as condições de vida dessas populações.
"A gente começa falando um pouco sobre o lugar onde esses compositores vivem. É um desfile que tem uma visão romantizada sim sobre todas essas vivências porque o romantismo é a forma como a gente pode valorizar ou como eles podem compreender todas essas experiências", conta o carnavalesco.
Samba-enredo
Diz um trecho do samba: "Neguinho, vadio, vagabundo / Sou muito mais que isso / Posso ser o que quiser / Talento, pé descalço, corre mundo / Todos que me excomungaram / Tem que aplaudir de pé / No meu barraco, luxo é ter educação / Saúde, boa prosa, um prato de feijão / Progresso é feito pelos meus iguais / Você sabe quem é quem quando vem os temporais".
Ao apresentar o lugar onde vive o sambista, o carro abre-alas remete ao olhar lúdico das crianças sobre a favela. "Finalizamos o nosso desfile falando sobre o esperançar que está através da fé, em depositar a esperança nas crianças, nessas próximas gerações, e construindo através da música, do samba, um novo mundo onde seja possível viver em paz, onde todo mundo possa ter condições", completa André.
A canção foi composta por Rafael Gigante, Vinicius Ferreira, Junior Fionda, Camarão Neto, Victor do Chapéu, Jefferson Oliveira, Marquinho Abaeté e André do Posto 7. Confira o samba-enredo:
Majestade
A rainha de bateria e maricaense Rayane Dumont, de 24 anos, é um exemplo do vínculo da escola com a comunidade. "Meu chão sempre foi a União de Maricá", afirmou ao Brasil de Fato. Ela conta que o amor pelo samba vem desde a infância, dos blocos de rua que acompanhava com a mãe aos 6 anos.
"O ano todo eu venho estudando, trabalhando, evoluindo e fazendo minha parte, e em todos os sentidos, junto com minha União de Maricá e a bateria Maricadência para que a gente consiga surpreender na Sapucaí", disse Rayane que está há 4 anos à frente da bateria. Ela também desfila na ala das passista da Acadêmicos do Salgueiro, de São Gonçalo.
Na última quarta (7), Rayane deu uma pausa na correria dos dias que antecedem o desfile para visitar sua antiga escola municipal. Ela disse que ouvir os pequenos cantando o samba-enredo e falar sobre sua profissão, o carnaval, para as crianças, renovou as energias para o grande dia.
Maricaense Rayane Dumont brilha à frente da bateria da União de Maricá há 4 anos; antes ela foi passista da escola / Vinicius Lima/União de Maricá
Sonho antigo
A União de Maricá nasceu em 2015, na gestão do ex-prefeito petista Washington Quaquá (PT), com o objetivo de recuperar a arte e cultura do carnaval da cidade, além de representar o carnaval maricaense nos palcos do Rio de janeiro. A ascensão da escola é resultado de subsídios da gestão municipal que possibilitaram uma sequência de êxitos ao longo dos anos.
Já em 2016 veio a conquista do 4º lugar pelo grupo de acesso C (atual Série Bronze), considerado a 4ª divisão dos desfiles cariocas, no palco Carnaval do Povo, na Estrada Intendente Magalhães. Dois anos depois a União de Maricá consagrou-se campeã, e avançou para o Grupo de Acesso, última etapa antes do tão sonhado desfile na Sapucaí.
Após realizar grandes apresentações, em 2023, a escola conquista a primeira posição do primeiro dia de desfile e o vice-campeonato geral da Série Prata, garantindo o passe para a estreia na Série Ouro, na Passarela do Samba Professor Darcy Ribeiro, na rua Marques de Sapucaí, no Carnaval 2024. As duas escolas mais bem coladas sobem para o Grupo Especial.
'Embaixadora' da cidade
Além da subvenção para o desfile da escola, a Prefeitura de Maricá nomeou simbolicamente como "embaixadora" da cidade a modelo e empresária Valéria Valenssa, que também vai desfilar pela União de Maricá este ano. A ligação da eterna “Globeleza” do carnaval com o município é familiar. O pai dela mora no bairro Itapeba há 30 anos.
“Era um sonho dele [morar em Maricá] que eu tive o privilégio de realizar. Vocês podem imaginar a sensação que eu tenho hoje, de ter investido no sonho do meu pai, há 30 anos, e poder receber tanto carinho, sendo uma das representantes do povo de Maricá. Estou muito feliz. Isso faz parte da minha história e, daqui para frente, vai fazer mais ainda. É um privilégio ser embaixadora da cidade e poder representar cada pessoa, no Brasil e fora dele”, declarou em visita ao município.
Durante a visita, Valenssa conheceu de perto políticas públicas implementadas que se tornaram exemplo de gestão no Brasil e no exterior. Ela embarcou em um ônibus “vermelhinho”, do programa Tarifa Zero, participou de um encontro com gestores e estudantes do programa Passaporte Universitário, que proporciona ensino superior gratuito em universidades privadas, e conheceu o programa de transferência de renda por meio da moeda social Mumbuca.
Fonte: BdF Rio de Janeiro