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Artistas negras discutem impacto colonial na Temporada França-Brasil

02.07.2025 8 min read

“Imaginem, nesse mundo em que a gente vive, se tirar o samba, tirar a salsa, tirar o jazz, tirar o hip-hop, tirar o funk. Será que a gente ainda estaria aqui?”. É com esse exercício, de pensar um mundo onde os ritmos e danças criados por pessoas negras não existem, que a coreógrafa e artista visual Ana Pi começa a explicar a um grupo de jornalistas o espetáculo Atomic Joy ─ em português, Alegria atômica. “Imagina se a gente tivesse decidido não dançar”.

No Brasil, a maior parte da população é negra ─ 55,5% se declararam pretos ou pardos no último Censo, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). E é também a população que mais sofre violências, já que ser uma pessoa negra no Brasil faz você enfrentar um risco 2,7 vezes maior de ser vítima de homicídio do que uma pessoa não negra, segundo o Atlas da Violência. 

Como enfatizado por Ana Pi, é também a população negra a responsável por grande parte da produção cultural, tanto no Brasil, como no mundo. O espetáculo idealizado por Ana busca, ao mesmo tempo, a alegria e a batalha, a guerra e a miudeza das vibrações, por meio das diversas danças de rua. A obra, que conta com oito dançarinos, faz parte da programação da Temporada França-Brasil.

>> Confira os destaques da programação da Temporada da França no Brasil

Ana Pi nasceu em Belo Horizonte, foi criada na capital mineira e em Salvador e mora na França há 14 anos. Ela é pedagoga, bailarina, pesquisadora das danças urbanas e reconhecida internacionalmente pelo trabalho com imagem e coreografia. Atomic Joy é o seu trabalho mais recente. 

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“Em Paris, a diversidade de danças de rua é muito importante. Há muitos séculos que Paris é Paris e, para das danças de rua, Paris também é Paris. É a cidade que acolhe a maior batalha do mundo. Não é à toa que breakdance passou a ser disciplina esportiva, com toda a complexidade que isso carrega, quando a cidade sediou os Jogos Olímpicos”, diz.

Não há dados oficiais de quantas pessoas negras vivem na França, mas a estimativa é que o país tenha a maior população negra da Europa, com mais de 60% de todos os europeus negros vivendo na França. De acordo com o Inquérito sobre Minorias e Discriminação na União Europeia, da Agência da União Europeia para direitos fundamentais (FRA), 29% das pessoas negras entrevistadas no país disseram ter sofrido discriminação nos 12 meses anteriores à pesquisa, e 48%, nos 5 anos anteriores.

A França foi responsável pela colonização de, pelo menos, 20 países africanos. Além disso, o país europeu ainda mantém o que chama de territórios ultramarinos, que incluem Guadalupe, Martinica e Guiana Francesa, na América Latina, cujas populações são, em grande parte, negras.

Centro e periferias 

Foi na França, nos centros e nas periferias, nas áreas urbanas e rurais, que Ana Pi aprofundou, em diversas viagens, a própria pesquisa e o contato com as danças de rua.

“Essas danças, na verdade, são ferramentas de comunicação ancestrais que vêm passando por um processo de sofisticação ao redor do mundo, unindo as pessoas ao redor do mundo”, diz.

Ana Pi se propõe a trazer para os teatros tanto dançarinos quanto danças moldadas pelas ruas, evidenciando que a arte não está apenas nos espaços formais, mas em cada esquina, em cada quebrada.

Segundo a artista, espetáculo Atomic Joy fala também de batalhas. Batalhas individuais, coletivas e também batalhas de dança, tão comuns quando se trata das danças de rua. “É um lugar de encontro que parece uma competição, mas, na verdade, é uma troca de informação num grande nível de exigência”, define.

No espetáculo, Ana Pi quer falar da alegria, mas uma alegria, como ela mesma diz, amoral, afinal, “quem faz maldade por aí está muito alegre também, né? Então, dentro dessa tensão do que é alegria, tem a palavra resistência”, diz.

Já o atômico, que vem inicialmente para associar a alegria à guerra, a uma bomba atômica, depois, ao longo do processo criativo ganha outros contornos. “Quando a gente vai diminuindo, diminuindo, até ficar bem pequenininho, esse é o atômico também. A palavra átomo veio para trazer para a alegria uma dimensão menos bombástica, mas mais ínfima, mais tênue, mais frágil, mais simples, pequena e humilde”.

Da França para o Brasil

Se foi na França que Ana Pi encontrou semelhanças com o Brasil e aprofundou as próprias pesquisas, foi no Brasil que a escultora e artista multidisciplinar francesa Beya Gille Gacha encontrou mais informações sobre as próprias origens. Ela nasceu em Paris, a mãe é do Camarões, e o pai, francês. Gacha faz parte do projeto Oceano Negro, que promoverá, entre outras ações, uma residência artística em Salvador, como parte da Temporada França-Brasil. 

Gacha conta que conheceu o Brasil também em uma residência artística, em Itaparica, na Bahia, promovida pelo Instituto Sacatar. A residência a marcou profundamente. Ela diz que viveu ali um cuidado que a permitiu voltar a criar, a inventar novas peças e ter um espaço para se reinventar e se reimaginar.

Durante a residência, ela sonhou com dois continentes que se aproximavam, e Camarões estava no meio. Sentiu que era para a cidade de origem da mãe que precisava ir. Até então, não tinha entendido por que. Um tempo depois, em uma conversa, em uma exposição, quando contava a experiência no Brasil, perguntaram se ela conhecia o Porto de Bimbia. Ela não conhecia, mas entendeu que precisava fazer uma visita. O porto, nos Camarões, foi ponto de partida de muitos africanos escravizados para a Europa e Américas.

“Hoje, é um pouco difícil o acesso. Cheguei na frente de painéis, onde havia anotado alguns lugares de ‘expedição de seres humanos’. E estava escrito Brasil, Brasil, Brasil [Como destino das viagens que deixaram o porto com pessoas escravizadas]. Eu caí sentada”, conta. Ela entendeu, então, a ligação que tinha com o Brasil.

Segundo a artista, existe uma amnésia de ambos os lados: os descendentes de africanos, tanto os que foram levados quanto os que ficaram em África, desconhecem as próprias origens.

“Existe uma amnésia dos dois lados, que é muito violenta que foi imposta às pessoas deportadas e também uma amnésia nos Camarões. Ninguém sabe que pessoas dos Camarões foram embora [traficadas como escravizadas]”, diz.

Camarões reúne povos de mais de 200 etnias. Desde os anos 1470, a região foi ocupada por portugueses, alemães, ingleses e franceses. Apenas em 1961 conquistou a independência, unificando a porção francesa e a inglesa. Com tantos povos unidos em um país por acordos europeus, é difícil saber ao certo a própria origem. Praticante de vudu, religião originalmente africana, Gacha conta que encontrou no Brasil elementos dela que não via mais em Camarões. 

Gacha é uma das artistas de Little Africa Village, espaço de arte contemporânea criado e formado por mulheres afrodescendentes, localizado no bairro de cultura africana Pequena África, em Paris. É reconhecida internacionalmente, e seus trabalhos fazem parte das coleções do Banco Mundial e do Museu Nacional Smithsonian de Arte Africana, em Washington, nos Estados Unidos. 

 

Oceano Negro

Com o projeto Oceano Negro, no segundo semestre deste ano, ela volta a Itaparica. Dessa vez, promovendo ela mesma uma residência artística voltada para mulheres, junto com outras artistas. Por dois meses, elas ficarão imersas em trocas entre si e com o ambiente. 

“É um projeto que foi gerado com a ideia de que raramente temos os espaços de criação que são valorizados e apresentados como espaços de cuidado. Eles são necessários aos artistas. Fala-se pouco das residências, não se sabe para que servem as residências de artistas. A residência serve para renascer, criar, descobrir. Dependendo da residência, permite também a concentração”, diz.

A artista brasileira Fabiana Ex-Souza, que vive em Paris desde 2010, também faz parte do grupo de artistas de Little Africa Village que irá promover a residência artística. Segundo ela, o encontro entre pessoas de diferentes origens, no Brasil, poderá criar muitas conexões.

“O Brasil funciona para muitos da diáspora quase como um santuário, porque dentro dessa nossa luta, a gente a gente preservou muita coisa que na África, em si, foi sendo perdida pelas histórias das colonizações que foram acontecendo sucessivamente. Então, o Brasil conservou muito dessa África”, diz.

Ela complementa: “Tem essa coisa de ir para África para encontrar, mas também tem uma coisa da África que vem para a gente para se encontrar. Então, eu acho que esse Oceano Negro mesmo é um local de encontro. Principalmente para nós todas, vai ser esse local de encontro, onde cada prática vai tentar se aliar e tentar criar essas novas formas de conjurar novos locais de experiência sensível para o mundo”.

Em busca da própria história, ela acrescentou o Ex no sobrenome. Fabiana conta que o nome Souza, de origem portuguesa, provavelmente veio até a família dela por conta da escravidão. As pessoas escravizadas que chegavam ao Brasil recebiam novos nomes e eram obrigadas a deixar a própria história para trás.

Ao mesmo tempo que queria assumir o controle sobre a própria trajetória, Fabiana não queria romper o vínculo com aqueles que vieram antes dela e que carregaram também o Souza.

“O Ex foi uma maneira, para mim, de criar um espaço entre esse nome que eu recebi, que eu herdei dessa colonização do Brasil, e uma maneira de começar a pensar esse espaço como um espaço de descolonização mental, espiritual, sem necessariamente mudá-lo”, diz.

Temporada França-Brasil

A temporada 2025 foi acordada em 2023, pelos presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Emmanuel Macron. O objetivo é fortalecer a relação bilateral entre os dois países, principalmente por meio da cultura. No primeiro semestre deste ano, ocorreu a Temporada Brasil-França, ou seja, a programação brasileira em solo francês. Agora, no segundo semestre, é a vez da Temporada França-Brasil, elaborada pela França.

Os temas prioritários da temporada são: a diversidade de sociedades e diálogo com África; democracia e Estado de direito; e clima e transição ecológica. A programação, que ocorre de agosto a dezembro, será distribuída entre 15 cidades brasileiras: São Paulo, Rio de Janeiro, Brasília, Belém, Salvador, Recife, Fortaleza, Belo Horizonte, Porto Alegre, Curitiba, Campinas, São Luís, Teresina, João Pessoa e Macapá.

Entre os dias 17 e 24 de maio, a Agência Brasil esteve em Paris para conhecer um pouco da programação, a convite do Instituto Francês, vinculado ao Ministério dos Negócios Estrangeiros da França, responsável pela programação do segundo semestre.

*A repórter viajou a Paris a convite do Instituto Francês.

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