Negociações para cessar-fogo em Gaza começam no Egito
As delegações do Hamas e de Israel devem iniciar nesta segunda-feira (6) negociações indiretas com o objetivo de libertar reféns mantidos em Gaza e pôr fim a dois anos de guerra devastadora no território palestino. Donald Trump pediu aos negociadores que “ajam rapidamente”.
As negociações terão como foco a primeira fase do plano de Trump para pôr fim à guerra em Gaza, revelou o Ministério dos Negócios Estrangeiros do Egito, ou seja, a libertação dos restantes 48 reféns detidos pelo Hamas em troca de prisioneiros palestinos detidos em Israel.
Em publicação nas redes sociais, na noite desse domingo (5), o presidente dos Estados Unidos (EUA) disse que as negociações avançam rapidamente, acrescentando que a primeira fase “deverá estar concluída esta semana”. O incentivo surgiu enquanto Israel continuava os ataques a Gaza, matando 63 pessoas nas últimas 24 horas. As negociações na cidade turística de Sharm el-Sheikh ocorrem na véspera do segundo aniversário do ataque sem precedentes do movimento islâmico palestino Hamas contra Israel, em 7 de outubro de 2023, que desencadeou a guerra.
O enviado dos EUA, Steve Witkoff, deverá participar das negociações em Sharm el-Sheikh, segundo os meios de comunicação, além dos negociadores israelenses e de uma delegação palestina chefiada por Khalil al-Hayya, vice-chefe do gabinete político do Hamas.
O porta-voz do governo israelense, Shosh Bedrosian, afimou aos jornalistas que as negociações no Egito estariam “limitadas a alguns dias, no máximo”.
A libertação dos reféns e a troca de prisioneiros significariam o fim imediato dos combates em Gaza, segundo Trump. Desde a aceitação parcial do Hamas do seu plano para pôr fim à guerra de quase dois anos em Gaza, na sexta-feira, os EUA, Israel e o Hamas têm afirmado que acreditam em um cessar-fogo próximo.
O secretário de Estado norte-americano, Marco Rubio, afirmou, em entrevista à TV ABC, que as negociações no Egito foram “o mais perto de conseguir a libertação de todos os reféns”. No entanto, alertou que as negociações ainda podem falhar devido à logística e que os detalhes da libertação dos reféns precisam ser acertados.
Rubio afirmou ainda que existiam desafios a longo prazo na implementação do acordo, em particular a criação de um organismo governamental tecnocrático para supervisionar Gaza no lugar do Hamas. Salientou que a prioridade atual é a libertação dos reféns e a garantia de que as tropas israelenses recuem para uma linha acordada em Gaza.
Anunciado em 29 de setembro, o plano norte-americano prevê um cessar-fogo, a libertação, no prazo de 72 horas, dos 47 reféns ainda mantidos após o ataque de 7 de outubro, a retirada gradual do Exército israelense de Gaza e o desarmamento do Hamas. Em troca, Israel retiraria gradualmente as suas tropas e devolveria mais de mil prisioneiros palestinos. O Hamas afirmou no domingo que está “ansioso por iniciar imediatamente o processo de troca” de reféns por prisioneiros palestinos detidos por Israel.
O acordo liberaria um aumento da ajuda humanitária a Gaza, onde parte da população passa fome, bem como fundos para a reconstrução.
Na noite de sábado (4), Trump partilhou um mapa de Gaza que delineava a linha inicial de retirada das tropas israelenses em Gaza, que variava entre dois quilômetros (km) e 6,4 km no território. O presidente norte-americano acrescentou que se o Hamas concordasse com a linha de retirada, começaria imediatamente um cessar-fogo.
As forças israelenses deverão recuar completamente para uma zona tampão na fronteira de Gaza, de acordo com os termos do plano, embora o primeiro-ministro, Benjamin Netanyahu, tenha afirmado que, independentemente de qualquer acordo, as tropas permanecerão na maior parte de Gaza.
Assista reportagem do Repórter Brasil Tarde, da TV Brasil, sobre as tentativas de negociação
Cessar-fogo
O otimismo em relação a um possível cessar-fogo tem crescido em todo o mundo, com os líderes ocidentais e árabes a exortarem o Hamas e Israel a chegarem a um acordo.
No domingo (5), o chanceler alemão, Friedrich Merz, telefonou a Netanyahu e manifestou apoio ao plano de Trump, descrevendo-o como “a melhor hipótese para a paz”, segundo comunicado.
O presidente do Egito, o país que acolhe as negociações saudou os esforços dos Estados Unidos sobre Gaza.
“Um cessar-fogo, o regresso de prisioneiros e detidos, a reconstrução de Gaza e o lançamento de um processo político pacífico que conduza ao estabelecimento e reconhecimento do Estado Palestino significam que estamos no bom caminho para uma paz e estabilidade duradouras”, afirmou Abdel Fattah al-Sisi, em discurso que marcou a guerra israelense-árabe de outubro de 1973 (guerra do Yom Kippur).
Por sua vez, Teerã, que é aliada do Hamas, expressou apoio a qualquer iniciativa para acabar com “crimes de guerra” e “limpeza étnica”.
“Apoiamos sempre qualquer iniciativa que envolva o fim da limpeza étnica, dos crimes de guerra e dos crimes contra a humanidade em Gaza”, disse o Ministério dos Negócios Estrangeiros do Irã, em comunicado divulgado na noite desse domingo.
As autoridades israelenses disseram ainda que esperam anunciar o fim da guerra nos próximos dias.
Um alto funcionário do Hamas disse à agência France-Presse que o grupo estava “muito interessado em chegar a um acordo para pôr fim à guerra e iniciar imediatamente o processo de troca de prisioneiros, de acordo com as condições no terreno”.
Trump ameaçou o Hamas com “destruição completa” caso não chegasse a acordo sobre Gaza, numa entrevista à CNN. Disse ainda que Netanyahu apoiava o fim do bombardeio de Gaza.
Apesar do pedido de Trump para que Israel interrompa os ataques e das ordens para que os militares conduzam apenas “operações defensivas”, Israel continuou a bombardear o território palestino. Pelo menos oito pessoas foram mortas em ataques separados na Cidade de Gaza, enquanto outras quatro foram mortas a tiro enquanto procuravam ajuda no sul do enclave.
“Embora alguns bombardeios tenham realmente cessado dentro da Faixa de Gaza, não há nenhum cessar-fogo em vigor neste momento”, acrescentou Shosh Bedrosian.
Pelo menos 67.139 pessoas foram mortas e cerca de 170 mil ficaram feridas na campanha militar israelense em Gaza, de acordo com o Ministério da Saúde, que afirmou que cerca de metade delas era formada de mulheres e crianças. Israel lançou a campanha em retaliação ao ataque de militantes liderados pelo Hamas que matou cerca de 1.200 pessoas e fez 251 reféns.
A Organização das Nações Unidas (ONU) declarou estado de fome em parte do território sob rigoroso bloqueio israelense, e os seus investigadores alegam que Israel comete genocídio no território. As acusações são rejeitadas por Israel.
Considerado organização terrorista pela União Europeia e pelos Estados Unidos, o Hamas tomou o poder em Gaza em 2007, dois anos após a retirada unilateral de Israel do território palestino que ocupou durante 38 anos.
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