Milhares de palestinos deixam Gaza com medo de ofensiva israelense

Com medo de nova ofensiva terrestre israelense, milhares de palestinos deixaram suas casas nas áreas orientais da Cidade de Gaza, agora sob constante bombardeio israelense, para pontos a oeste e ao sul do território.
O plano de Israel de assumir o controle da Cidade de Gaza gerou alarme no exterior e no país, onde dezenas de milhares de israelenses realizaram alguns dos maiores protestos já vistos desde o início da guerra, pedindo um acordo para acabar com os combates e libertar os 50 reféns restantes mantidos por militantes palestinos em Gaza.
A ofensiva planejada estimulou os mediadores de cessar-fogo do Egito e Catar a intensificar os esforços. Fonte familiarizada com as negociações com os militantes do Hamas no Cairo disse que essa poderia ser “a última tentativa”.
O primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, descreveu a Cidade de Gaza como o último grande reduto urbano do Hamas. Porém, como Israel já detém 75% de Gaza, os militares alertaram que a expansão da ofensiva poderia colocar em risco os reféns ainda vivos e levar as tropas a uma prolongada e mortal guerrilha.
Dani Miran, cujo filho Omri foi feito refém em 7 de outubro, disse temer as consequências de uma ofensiva terrestre israelense na Cidade de Gaza. “Tenho medo de que meu filho se machuque”, declarou em entrevista à Reuters em Tel Aviv nesta segunda-feira.
Na Cidade de Gaza, muitos palestinos também estão convocando protestos para exigir o fim de uma guerra que demoliu grande parte do território e provocou um desastre humanitário, e para que o Hamas intensifique as negociações para evitar a ofensiva terrestre israelense.
Uma incursão blindada israelense em Gaza poderia causar o deslocamento de centenas de milhares de pessoas, muitas das quais já foram desalojadas várias vezes na guerra.
Ahmed Mheisen, gerente de um abrigo palestino em Beit Lahiya, um subúrbio devastado pela guerra que fica do lado leste da Cidade de Gaza, disse que 995 famílias deixaram a área nos últimos dias em direção ao sul.
Com a iminência da ofensiva israelense, Mheisen calculou em 1,5 milhão o número de barracas necessárias para abrigos de emergência, dizendo que Israel havia permitido a entrada de apenas 120 mil barracas no território durante o cessar-fogo de janeiro a março.
O escritório humanitário da ONU informou, na semana passada, que 1,35 milhão de pessoas já estavam precisando de itens de abrigo emergencial em Gaza.
“O povo de Gaza é como alguém que recebeu uma sentença de morte e está aguardando a execução”, disse Tamer Burai, um empresário da cidade.
“Estou transferindo meus pais e minha família para o sul hoje ou amanhã. Não posso correr o risco de perder nenhum deles se houver uma invasão”, afirmou à Reuters em um aplicativo de mensagem.
A mais recente rodada de negociações de cessar-fogo indireto terminou no final de julho em um impasse, com os lados trocando culpas pelo colapso.
Fontes próximas às negociações no Cairo disseram que mediadores se reuniram com líderes do Hamas, do grupo militante aliado Jihad Islâmica e de outras facções, com pouco progresso. As conversações continuarão, acrescentaram as fontes.
*(Reportagem adicional de Maayan Lubell, Emma Farge e Olivia Le Poidvin)
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