Ajuda humanitária da ONU é saqueada no Haiti; Celac pede que membros evitem 'ação militar'
Após mais um dia de confrontos entre grupos armados e policiais no Haiti, o Fundo da ONU para a Infância (Unicef) denunciou que parte da ajuda humanitária enviada ao país foi saqueada neste sábado (16) na capital, Porto Príncipe.
"Pela manhã, um dos 17 contêineres da Unicef foi saqueado no porto principal de Porto Príncipe. O container saqueado trazia item essenciais para sobrevivência materna, pré-natal e infantil, incluindo reanimadores e insumos essenciais para o desenvolvimento e eduação infantis", disse a entidade.
A violência no país se acirra desde fevereiro, quando o então primeiro-ministro Ariel Henry se negou a convocar novas eleições, descumprindo o que havia prometido quando assumiu o cargo após o assassinato do ex-presidente Jovenel Moïse. Grupos armados fizeram ataques a prédios públicos, instituições, libertaram cerca de quatro mil detentos e exigiram a renúncia de Henry, que foi anunciada no último 11 de março.
Atualmente estes grupos controlam áreas inteiras do Haiti, incluindo a maior parte da capital e, mais recentemente, o principal terminal marítimo de Porto Príncipe. De acordo com o Sindicato Nacional da Polícia Haitiana, uma operação para desobstruir uma via no distrito de Bas Delmas resultou em várias mortes na sexta-feira (15). O número de vítimas fatais, no entanto, não foi divulgado.
A ação da polícia ocorreu em local controlado pelo grupo chefiado pelo ex-policial Jimmy Chériezier, conhecido como Barbecue. Ao dar coletivas de imprensa e fazer ameaças públicas a políticos do país, Chériezier se tornou o porta-voz mais conhecido das Forças Revolucionárias Família G9 e Aliados, uma aliança de mais de uma dezena de grupos armados haitianos.
De acordo com a agência de notícias AFP, as forças de segurança estatais também tentaram retomar o controle do porto onde, segundo a ONU, 260 contêineres de ajuda humanitária estão sob a posse de grupos armados. No último 7 de março, a Caribbean Port Services S.A. informou que o funcionamento do porto estava suspenso por conta de “atos de sabotagem e vandalismo”.
Em comunicado, o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) afirmou que seis em cada dez hospitais do Haiti estão sem capacidade de funcionar por falta de eletricidade, combustível e suprimentos de saúde. A agência alertou, ainda, que um quarto das mulheres que vivem na região de Porto Príncipe está sem acesso a cuidados básicos de saúde e nutrição.
Diálogo, não armas
A presidenta de Honduras, Xiomara Castro, que está à frente da Comunidade de Estados Latino-americanos e Caribenhos (Celac), rejeitou a possibilidade de uma intervenção militar no Haiti. “Sob nenhuma justificativa podemos permitir uma ação militar que viole o princípio de não intervenção e respeito à autodeterminação dos povos”, declarou.
Na última sexta (15), Xiomara Castro e os presidentes da Colômbia, Gustavo Petro, e de São Vicente e Granadinas, Ralph Gonçalvez, criaram um Centro de Cooperação e Diálogo Político para o Haiti.
“Diante da crise prolongada do Estado haitiano agravada pelo assassinato do primeiro-ministro Jovenel Moïse em 2021, pela violência que hoje se abate sobre o povo do Haiti e por considerá-lo fundamental para determinar seu destino”, explicou em documento. Castro convocou uma reunião extraordinária da Celac para esta segunda-feira (18).