ONU diz que guerra na Síria não terminou e desaconselha volta em massa ao país
O enviado especial da ONU para a Síria, Geir Pedersen, advertiu, nesta terça-feira (17), que "o conflito ainda não terminou", após a queda do presidente deposto, Bashar al-Assad, e enquanto são registrados confrontos entre as forças pró-curdas e pró-turcas no norte do país.
"Tem havido hostilidades significativas nas últimas duas semanas, antes que fosse negociado um cessar-fogo (…). O cessar-fogo de cinco dias expirou e estou seriamente preocupado com os informes de uma escalada militar", disse Pedersen.
"Uma escalada deste tipo poderia ser catastrófica", avaliou. O enviado especial da ONU também disse que se reuniu com os novos líderes sírios e visitou as "celas" e as "câmaras de tortura e execução" da prisão de Sednaya, um dos locais mais temidos do regime de Assad.
O enviado da ONU pediu um "amplo apoio" à Síria e o fim das sanções para permitir a reconstrução do país, devastado pela guerra.
"Um movimento concreto em direção a uma transição política inclusiva será fundamental para garantir que a Síria receba o apoio econômico que precisa", ressaltou Pedersen.
"Existe uma clara vontade internacional de se envolver. As necessidades são imensas e só poderão ser abordadas com um amplo apoio", acrescentou.
Após a queda do clã Assad, que dominou o poder na Síria por 50 anos, a comunidade internacional começa a estabelecer contato com o grupo sunita radical Hayat Tahrir al-Sham (HTS), ex-braço sírio da rede islamista Al Qaeda e que liderou a ofensiva rebelde.
"Lobo em pele de cordeiro"
A vice-ministra israelense de Relações Exteriores, Sharren Haskel, afirmou também nesta terça que Abu Mohammed al-Julani, chefe do grupo sunita radical sírio HTS, é um "lobo em pele de cordeiro", devido ao seu passado jihadista.
Durante uma coletiva de imprensa em Jerusalém, Haskel mostrou várias fotos de al-Julani, da época em que o chefe do Hayat Tahrir al Sham (HTS) era membro de organizações jihadistas.
"É importante evitar cair na tentação de absolver os grupos jihadistas na Síria. Sabemos quem eles são e qual é sua verdadeira natureza, embora mudem de nome, e entendemos até que ponto são perigosos para o Ocidente", afirmou Haskel.
Embora o grupo afirme ter rompido com o jihadismo, continua sendo classificado como "terrorista" por várias potências ocidentais, incluindo Estados Unidos e Reino Unido. Agora no poder, o HTS tenta moderar sua retórica e se comprometeu a proteger as minorias religiosas.
Líder do grupo rebelde, al-Julani, que agora se apresenta pelo seu verdadeiro nome, Ahmad al Shareh, e costuma aparecer com roupas civis diante de delegações estrangeiras, combateu para a Al Qaeda no Iraque após a invasão americana de 2003.
Depois, criou a ala da Al-Qaeda na Síria, a Frente al Nusra, que foi aliada por um tempo do grupo Estado Islâmico, até que se transformou, sob sua direção, no Hayat Tahrir al Sham (HTS).
Mas na semana passa, al-Julani disse em entrevista ao jornal israelense Times of Israel agradecer ao governo de Netanyahu por seu apoio contra Assad.
"Digo apenas que somos gratos a Israel por seus ataques contra o Hezbollah e a infraestrutura iraniana na Síria. Esperamos que após a queda de Assad, Israel plante uma rosa no jardim sírio e apoie o povo sírio, para benefício da região. O povo sírio é quem vai permanecer na fronteira com Israel, não Assad ou os iranianos", disse Julani, que já pertenceu a Al Qaeda e foi aliado do Estado Islâmico.
Organizações populares sírias pedem paz
Representantes de partidos nacionais sírios, democráticos, socialistas, comunistas, laicas e progressistas, e organizações populares independentes fizeram uma declaração conjunta no último sábado (15) condenando as agressões israelenses em território sírio e a ocupação de regiões, como nas Colinas de Golã, que consideram um "perigo iminente". "Ao mesmo tempo, condenamos o silêncio interno e externo diante da agressão de Israel", completou.
A declaração pede aos países árabes que também desejam uma unidade síria que cogitem a possibilidade de enviar forças para impedir "os israelenses, que atacam o sul da Síria em todos os sentidos".
"O nacionalismo sírio é de todos os partidos nacionais, das forças da sociedade civil e de personalidades influentes e eficazes", acrescentou a declaração conjunta.
*Com informações da AFP