Lula: sem assumir responsabilidades históricas, nações ricas 'não terão credibilidade' para exigir metas climáticas
Em seu discurso de abertura da última reunião de chefes de Estado do G20 reunidos no Rio de Janeiro (RJ) nesta terça-feira (19), o presidente brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), cobrou das nações ricas suas "responsabilidades históricas" em relação às metas para evitar o colapso socioambiental do planeta.
"Aos membros desenvolvidos do G20, proponho que antecipem suas metas de neutralidade climática de 2050 para 2040 ou até 2045. Sem assumir suas responsabilidades históricas, as nações ricas não terão credibilidade para exigir ambição dos demais."
Na presidência temporária do G20, o Brasil lançou nesta terça uma força tarefa para a Ação Global Contra a Mudança do Clima. Em seu discurso, Lula pediu ao G20 para elevar o nível de ambição na próxima rodada de Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDCs, sigla em inglês para nationally determined contributions) – compromissos que os países assumem para reduzir suas emissões de gases de efeito estufa como parte da mitigação das mudanças climáticas.
"É fundamental que as novas NDCs estejam alinhadas à meta de limitar o aumento da temperatura global a 1,5º C. Nossa busca continua sendo o princípio das responsabilidades, comuns porém diferenciadas." Lula destacou que os esforços da Ação Global Contra a Mudança do Clima serão "inócuos", caso a comunidade internacional "não se unir para fazer a sua parte".
"Mesmo que não derrubemos mais nenhuma árvore, a Amazônia continuará ameaçada se o resto do mundo não cumprir a missão de conter o aquecimento global. Os oceanos são outro importante regulador climático e fonte potencial de soluções. Eles também devem ser objeto prioritário das nossas preocupações. Na luta pela sobrevivência não há espaço para o negacionismo e a desinformação".
COP30 será 'última chance'
Enquanto os líderes do G20 estão reunidos no Rio de Janeiro, representantes brasileiros seguem em Baku, Azerbaijão, na Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas (COP29), negociando uma nova meta de financiamento climático.
"Não há ambição que se sustente sem meios de implementação. Em Paris, falávamos em uma centena de bilhões de dólares por ano, que o mundo desenvolvido não cumpriu. Hoje falamos em trilhões. Esses trilhões existem, mas estão sendo desperdiçados em armamentos enquanto o planeta agoniza. Não podemos adiar para Belém a tarefa de Baku. A COP será nossa última chance de evitar uma reptura irreversível no sistema climático", defendeu Lula diantes dos líderes das principais economias globais reunidos na capital fluminense.
O Brasil apresentou na COP29 sua nova NDC, que abrange todos os gases do efeito estufa e setores econômicos, indicou Lula. "Assumimos a meta absoluta ambiciosa para 2035 de reduzir emissões de 59 a 67% comparados a 2005.
"A maior parte da redução das nossas emissões virá da queda no desmatamento que diminuiu 45% nos últimos dois anos. Nãos transigiremos com os ilícitos ambientais. O desmatamento será erradicado até 2030. Queremos que o mundo reconheça o papel desempenhado pelas florestas e que valorize a contribuição dos povos indígenas e comunidades tradicionais", disse o presidente brasileiro.
O Brasil propôs a criação de um Conselho de Mudanças do Clima na Organização das Nações Unidas, para acelear a implementação do Acordo de Paris, que visa limitar o aquecimento global e combater as alterações climáticas.