Mais de 70 atividades marcam novembro negro em Belo Horizonte (MG); movimentos comemoram o novo feriado nacional
No próximo dia 20, data que relembra o assassinato de Zumbi dos Palmares, será comemorado o dia da consciência negra. Pela primeira vez este ano, a data será feriado nacional. Em Belo Horizonte, a fim de celebrar a história e cultura afro-brasileira, diversos espaços municipais estão com uma ampla programação cultural durante todo o mês de novembro.
Museus e Teatros Municipais, Centros Culturais, o Centro de Referência da Cultura Popular e Tradicional Lagoa do Nado, Cine Santa Tereza, e a Casa do Baile receberão ao longo de todo o mês, mais de 70 atividades culturais gratuitas.
As ações integram a Rede de Identidades Culturais (Programa RIC), uma política permanente da Prefeitura de Belo Horizonte (PBH) para promoção da igualdade racial. O programa faz parte do Plano de Promoção da Igualdade Racial de Belo Horizonte e das metas da 7ª Conferência Municipal de Cultura.
Homenageando Carolina Maria de Jesus, escritora e compositora mineira e Abdias do Nascimento, ator, dramaturgo e ativista político, fundador do Teatro Experimental Negro (TEN), a agenda RIC 2024 tem como tema este ano "110 anos de nascimento de Carolina Maria de Jesus e Abdias Nascimento".
O feriado é agora nacional
Sancionada pelo presidente Lula, em dezembro do ano passado, a Lei nº14.759/2023, que nacionalizou o feriado, foi proposta pelo senador Randolfe Rodrigues (PT). A nacionalização do feriado é importante para homenagear a luta incansável de lideranças, celebrar a resistência do povo preto e reconhecer as lutas que continuam até hoje, é o que afirma João Gualberto, militante do Movimento Brasil Popular.
“A nacionalização deste feriado é muito importante, proporciona uma oportunidade para refletirmos sobre questões que ainda persistem em nossa sociedade, como o racismo, a desigualdade e a intolerância religiosa. É um momento para demandar reparação e igualdade, essencial para construirmos uma sociedade mais justa ", pontua.
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Visão com a qual também concorda Andréia Roseno (Makota Kinanjenu), para ela, o 20 de novembro simboliza de maneira afirmativa a reparação histórica que o Estado brasileiro precisa garantir a essa população.
“A nacionalização desse feriado se dá a partir de uma reparação histórica, para positivar as memórias das lutas que seguem até os dias de hoje, contra as mazelas impostas pelo racismo e por essa herança colonial e escravocrata, que ainda nos separa”, comenta.
Mobilização em Belo Horizonte
Gualberto destaca ainda, que em Belo Horizonte a data também é feriado municipal, o que, em sua opinião, é um avanço significativo na busca por direitos e reconhecimento. Ele relata que, a cada ano, tem crescido a mobilização cultural na cidade em torno da data.
“Produtores culturais locais têm realizado eventos que celebram a cultura negra por meios do samba, hip hop, blocos afro, capoeira e culinária afro-brasileira. Essas iniciativas são fundamentais para o resgate da nossa história e cultura. A consciência negra também é sobre valorizar nossas tradições e promover espaços acessíveis a todos, com atividades populares ou gratuitas”, afirma.
Porém, João relembra que BH ainda tem muito que avançar. Ele cita, como exemplos, a necessidade de melhoria no ensino da cultura africana e afro-brasileira nas escolas, a valorização e proteção das religiões de matriz africana, a manutenção de oportunidades para a juventude preta e a necessidade de valorização financeira dessa população. Além disso, destaca a questão dos quilombos urbanos na cidade.
“Temos os próprios quilombos urbanos que lutaram muito pelo reconhecimento de patrimônio cultural, mas que ainda lutam pela garantia dos seus direitos. Temos muito o que avançar ainda para uma valorização das religiões de matriz africana, pois nosso povo é constantemente atacado por pessoas intolerantes”.
A importância da data
A data do assassinao de Zumbi – perpetrado em 1695, por bandeirantes, comandados por Domingos Jorge Velho, em missão de destruir o quilombo de Palmares – para Andreia Roseno é um questionamento a ideia da democracia racial.
“O 20 de novembro é para denunciar que é falsa a ideia de democracia racial e dizer que o Brasil tem uma memória ancestral, que trás os lutadoras e lutadores como Zumbi dos Palmares, Dandara, Acotirene, Tereza de Benguela, Chico Rei e tantas outras lideranças que lutaram para que a libertação acontecesse. Tem a simbologia de trazer tudo de afirmativo e de reparação histórica que o Estado brasileiro precisa ter para com essa população”.
Programação
Dentro das atividades do mês da consciência negra, entre os dias 26 e 30, acontece uma programação especial dando destaque ao trabalho e legado de Carolina Maria de Jesus e Lélia Gonzalez, grandes escritoras e pensadoras negras. Ambas foram homenageadas, este ano, com estátuas no Parque Municipal Américo René Gianetti, onde também acontece a programação cultural e de educação patrimonial, durante esses dias.
A programação completa do mês da consciência negra e dos dias de homenagem às escritoras estão na página da Prefeitura de Belo Horizonte e aqui.
Fonte: BdF Minas Gerais