Fugitivos de presídio de Mossoró podem ter usados barras da parede para fugir, aponta investigação
Os dois fugitivos da Penitenciária Federal de Mossoró podem ter utilizado uma barra de ferro retirada da própria estrutura da parede da prisão para aumentarem o buraco que utilizaram para escapar na madrugada de terça para quarta-feira (14). Eles teriam conseguido as barras de ferro devido a infiltrações e à falta de manutenção das paredes do complexo. As informações foram reveladas pela Folha de S.Paulo e g1.
Ainda de acordo com os veículos, os dois fugitivos, que pertencem à facção fluminense Comando Vermelho, teriam enrolado os pedaços de ferro nos uniformes para fazer menos barulho e conseguir utilizar o material como uma alavanca. Antes de conseguirem escapar, os dois estavam no chamado Regime Disciplinar Diferenciado (RDD), uma rotina mais dura na qual os detentos ficam isolados 24 horas em uma cela, sem sair sequer para o banho de sol.
De acordo com os investigadores do episódio, o fato de estarem no RDD acabou contribuindo para a fuga dos detentos, pois os locais não estavam passando por revistas diárias dos agentes penitenciários. Além disso, relatórios de inteligência recentes produzidos por agentes penitenciários expuseram falhas no sistema de câmeras da unidade, que vão da falta de manutenção dos equipamentos à existência de vários pontos cegos que não eram monitorados na unidade.
'Falhas corrigidas'
O ministro da Justiça, Ricardo Lewandowski, concedeu uma entrevista coletiva na tarde deste domingo em Mossoró. Ele afirmou que o governo "não está medindo esforços" para apurar as circunstâncias da fuga. "Estamos trabalhando em uma frente administrativa de investigação para apurar responsabilidades de cunho disciplinar e para averiguar que tipo de falhas aconteceram", afirmou.
"Enquanto estamos apurando, as correções estão sendo feitas. As possíveis falhas já estão corrigidas, de maneira que o presídio de Mossoró voltou a ser um presídio absolutamente seguro e apto a custodiar os detentos que lá se encontram."
"Nós temos outra frente, que é o inquérito policial, que envolve perícias que vão examinar as causas dessa fuga do ponto de vista técnico. A Polícia Federal, juntamente com a Polícia Rodoviária Federal, está empenhada na captura dos detentos que se evadiram, completou o ministro.
A investigação ainda trabalha com um raio de buscas de 15 quilômetros do presídio, mas há preocupação com as condições locais. "Soube agora e vi pelas fotos aéreas que é uma região que tem grutas, em que as pessoas podem eventualmente se esconder", disse Lewandowski. "O terreno é difícil, as condições são desfavoráveis, teve uma enxurrada torrencial, que apagou rastros, portanto a questão de prazo e dias é algo que não podemos precisar".
Em relação à possibilidade – aventada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva neste domingo – Lewandowski afirmou que "não podemos afirmar que houve conivência de quem quer que seja, mas claro que todas as hipóteses estão sendo investigadas e virão à luz no momento apropriado."
Modelo era tida como 'referência'
Os detalhes da fuga que já dura cinco dias e mobiliza cerca de 500 policiais de diferentes forças em turnos, expõem cada vez mais fragilidades do sistema penitenciário federal, que era tido como referência.
Criado ainda no primeiro mandato de Lula, em 2006, o sistema penitenciário federal é inspirado nas prisões de segurança máxima dos Estados Unidos, com protocolos rigorosos e uso de tecnologias de ponta para isolar líderes e integrantes de organizações criminosas em unidades prisionais que não possuem muitos detentos e mantém eles sem contato.
O episódio da fuga, porém, acaba afetando a imagem das penitenciárias federais, tido como um caso de sucesso até pelas gestões que não eram do PT, e que nunca tiveram problemas tão graves expostos como está ocorrendo agora. Neste cenário, Lewandowski viajou neste domingo para o Rio Grande do Norte para acompanhar as investigações sobre a fuga e a operação para recapturar os dois detentos. Em pronunciamento à imprensa, ele tentou minimizar o impacto do episódio e reafirmou a segurança do sistema penitenciário federal.
"A minha presença aqui é, antes de mais nada, para mostrar que o governo federal está presente, o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva está aqui também prestigiando o estado, prestigiando as autoridades locais para que nós resolvamos esse problema que surgiu, que é um problema que, tenho que dizer, não afeta em hipótese nenhuma a segurança das cinco unidades prisionais federais, mas que é um problema localizado e que será superado em breve com a colaboração de todos", disse Lewandowski mais cedo, ao lado da governadora Fátima Bezerra (PT).
Desde que a fuga veio à tona, o ministro afastou a direção da penitenciária no mesmo dia da fuga e nomeou um interventor, Carlos Luis Vieira Pires, que já dirigiu a penitenciária federal de Catanduvas (PR). Os fugitivos foram identificados como Rogério da Silva Mendonça, 36, conhecido como Tatu, e Deibson Cabral Nascimento, 34, chamado de Deisinho.